«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, setembro 20, 2008

Olho de Fogo também reconhece méritos do Governo Regional

"Quem? O Olho de Fogo o quê? Ah, esse! Só sei que o gajo me faz uns enaltecimentos para disfarçar. É um pseudo-independente com uma mão a teclar e a outra numa lata de tinta vermelha..."

Ao contrário do que às vezes se pensa, no Olho de Fogo tem havido espaço para o reconhecimento de virtudes e aspectos positivos do poder político regional, comandado pelo mesmo partido político há 30 anos.

A propósito de um comentário providencial neste post, no sentido da inexistência de elogios ao executivo madeirense no Olho de Fogo, cito alguns exemplos em textos deste blogue, numa pesquisa rápida e não sistemática (embora não precise de me justificar, acabou sendo um exercício interessante de memória - nem que seja para não exagerar nos comentários elogiosos):

1. «[M]érito de colocar a Madeira no mapa face ao centralismo do Estado»;

2. «[T]oda a obra feita»;

3. «[A] obra é inegável, as conquistas autonómicas foram muitas»;

4. «[E] nisto o PSD e Alberto João Jardim têm razão, de acordo com os relatos de quem utilizou a estrutura [novo terminal no aeroporto da capital] de «terceira categoria», como referem açorianos»;

5. «[M]esmo que se discorde do estilo, dos métodos, da estratégia e do modelo de desenvolvimento, Alberto João Jardim precisou de um braço-de-ferro para conseguir vantagens para a Madeira nos pós-25 de Abril. A Madeira e a Autonomia parecem correr o risco que assistir a retrocessos devido às novas regras da relação financeira com o Estado» [voltei, recentemente, a reiterar esta ideia a propósito de umas acusações de Carlos César ao poder social-democrata madeirense];

6. «[A] Autonomia regional pode sofrer um revés com a nova LFRA»;

7. «[A] situação financeira do país não justificará, na totalidade, certos avanços e soluções da Lei de Finanças das Regiões Autónomas. Estará o rigor das finanças públicas a ser confundido, de forma oportunista, com cortes deliberados à RAM? Cortes que podem fazer retroceder algumas conquistas autonómicas»;

8. «[A]té que ponto o ataque a Alberto João Jardim e a Marques Mendes cabia ou não discurso do primeiro-ministro, na Assembleia da República, na discussão do Orçamento de Estado? Há quem o justifique pelo estilo político do presidente do Governo Regional. Há quem veja no discurso de Sócrates uma acção partidária, que não caberia num discurso de Estado, nem no palco da Assembleia da República»;

9. «Alberto João Jardim demonstra mais uma vez ter um sentido de realismo e pragmatismo na condução de certos assuntos, que se adapta e responde ao contexto socio-cultural e à mentalidade madeirenses»;

10. «[T]rês décadas de governo explicam-se também pelo mérito de, há 30 anos, Alberto João Jardim ter sabido ler, com elevada perspicácia, a mentalidade madeirense e ter sabido estruturar uma governação que conseguisse tornar a Madeira governável. O tal evitar da «bulha», sobretudo em período pós-revolucionário [esta passagem está aqui].»

Agora, como se compreende, não devo é andar sempre a bajular o poder porque isso fica sempre mal e não é natural - qualquer poder precisa é de massa crítica a fiscalizá-lo e de competição para ser melhor, não de panegíricos.

As massagens no ego sabem bem, mas se for banalizado faz as pessoas acomodarem-se. É a natureza humana.

Os elogios normalmente ficam a cargo de quem está conectado, dependente e comprometido com esse poder de forma canina. O poder deveria distanciar-se destes elogios afectivos vindos de dentro de casa, porque induzem miragens e distanciamento da realidade.

O poder deve antes rodear-se de amigos críticos, por mais difícil que seja e por mais incómodo que causem no momento. A longo prazo é benéfico.

Há mais tempo, quando se procurou ler e conotar o Olho de Fogo como anti-Jardim, para arrumar este blogue num canto e assim desvalorizá-lo, na tentativa de lhe colar a ideia de previsibilidade, parcialidade e unidimensionalidade (não pertinência), dei conta do seguinte:

- Anti-ninguém I (Tratar temas e não pessoas)
- Anti-ninguém II ( ilustrada uma mentalidade)
- Anti-ninguém III («Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz»)

3 comentários:

  1. Viva Nélio,
    Fez bem em notar os elogios à actuação governamental. O poder é realmente o pior dos vicíos, razão pela qual tenho algumas dúvidas em pensar que algum político no poder se faça acompanhar de discussões com honestidade intelectual. Essa é a tarefa que nos cabe a nós que não somos políticos. Curiosamente essa massa crítica não existe em Portugal, provavelmente muito por razão de sermos um povo com pouca tradição de liberdade. Uma leitura que sigo de perto é a de Sobre a Liberdade, de Stuart Mill, ed. 70. Nesse livro estão expostos alguns dos argumentos mais poderosos em favor da liberdade dos indivíduos e da forma do Estado se relacionar com os indivíduos. A leitura dessa obra permite-nos desde logo constatar que no nosso caso, a discussão livre e activa não existe. O que temos é meia dúzia de pavões a exibirem a erudição com as sentenças que quotidianamente gostam de cagar. Desde que descobri o Olho de Fogo adoptei-o como leitura muito estruturada sobre a realidade social e política madeirense, mas é verdade, como já disse, que fiquei com a impressão que os textos reacaem muito na forma habitual de se fazer política por estas bandas: bate-se no poder, mas não se apresentam soluções. Em Portugal é assim que tem acontecido. As pessoas votam na oposição, não porque acreditem que a oposição tem melhores posições para melhorar o país, mas porque, pura e simplesmente se cansam do partido do poder. Mas em última instância também faço questão que o Nélio saiba que o meu comentário, talvez injusto até (não conheço o olho de Fogo desde sempre) surgiu mesmo no sentido de massa crítica que o Nélio aponta. Depois, porque mesmo não sendo madeirense (o meu filho e a minha esposa são) interesso-me por saber mais umas coisas sobre a ilha e em boa verdade, o Olho de Fogo tem sido uma boa fonte.
    Bem haja e continuação de bom trabalho
    abraço

    ResponderEliminar
  2. ...e não esquecer uma piadinha aqui ou ali de alguém que vomita ódio por quem não crítica sempre o poder regional.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado pelos comentários nesta noite de Sábado.

    Afinal, eu não precisava andar a pesquisar no Olho de Fogo as minhas declarações favoráveis ao governo regional. O Farpas da Madeira, nos links disponibilizados no comentário anterior, está convencido que sou unha e carne com o poder social-democrata madeirense.

    É assim que eu gosto: as coisas baralhadas. Fico conotado com todos.

    Deve ter o Farpas da Madeira reparado que citei, recentemente, José Manuel Rodrigues do CDS-PP, num texto de 5 de Setembro (Esbanjamento), a propósito do novo estádio do Marítimo.

    A partir de agora vou passar a explicitar que a maioria parlamentar da ALM é do PSD, já que parece ninguém saber.

    Quanto ao ECD da RAM, basta pesquisar para ver quanto clara é a minha posição.

    Recordo que houve uma manifestação em frente da ALM, com a presença do secretário geral da Fenprof, antes da aprovação do ECD pela maioria laranja.

    Quanto a mais manifestações ou mostras de desagrado, sobretudo após o chumbo pelo PSD Madeira da proposta de contagem do tempo de serviço docente congelado, tenho a minha opinião.

    Acho que daria direito a uma boa forma de luta e uma posição veemente por parte dos professores. Que se perdeu.

    Aqui no blogue fiz o que pude: denunciei a traição aos professores e evidenciei as incoerências e politiquices do GR:
    - http://olhodefogo.blogspot.com/2008/06/professores-de-luto-e-em-luta-90.html
    - http://olhodefogo.blogspot.com/2008/06/governo-regional-amigo-dos-fumadores-e.html

    Os professores sofrem da mesma anestesia geral (ver destaque na barra de navegação deste blogue)dos restantes madeirenses.

    Tantas vezes dou por mim a falar com gente incrédula, como se estivesse a falar de coisas do outro mundo. Evita-se até falar e saber dos assuntos, para justificar a inércia. As pessoas nem gostam de ser confrontadas com a realidade. Ficam incomodadas e até zangadas.

    Face a isto, cito um texto mais antigo: Anti-ninguém III («Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz»)

    ResponderEliminar