No que toca à violência nas escolas, Maria de Lurdes gosta de assobiar para o lado, mas valha-nos a clarividência e realismo de Pinto Monteiro.
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A greve nacional de amanhã, 3 de Dezembro, tem razões para além daquelas mais mediatizadas como a avaliação do desempenho, as quotas para a progressão na carreira ou a divisão dos professores em duas categorias, apesar do mesmo conteúdo funcional. São a gota que fez transbordar o copo, mas há causas mais profundas.
Um dos motivos concorrentes para esta greve geral dos professores, que formam um pano de fundo - o tal mal-estar docente -, é a falta de condições nas escolas para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem. É a atitude negativa dos alunos perante o trabalho intelectual (escolar) e a violência e a indisciplina generalizada, que Maria de Lurdes Rodrigues gosta de ignorar. Por aqui também se vê a desconsideração que tem pelos professores.
Pudera, é mais fácil bater nos professores, uma espécie de violência doméstica que dará "pica" à ministra da Educação, porque até são hierarquicamente inferiores, do que responsabilizar pais e estudantes, a tal opinião pública que dá votos...
Se ao menos os docentes ganhassem menos salário e tivessem pior carreira mas contassem com melhores condições para trabalhar e se realizar profissionalmente... Mas não têm. Além de agora lhes pagarem pior, são infelizes e frustrados na escola e na profissão (vai alguém dizer que não, que vive da vocação, mas quando esses têm oportunidade fogem a sete pés do ensino...).
Na passada sexta-feira, dia 28 de Novembro, uma professora da Escola EB 2,3 de Jovim, Gondomar, foi agredida a murro, estalada e pontapé por um aluno de 16 anos, só porque lhe chamou a atenção para a linguagem imprópria, usada nos corredores da escola. É esta a gratidão que recebem os professores. Além das estaladas do Ministério da Educação, são as agressões e desconsiderações de todos os lados.
A indisciplina e a violência, tanto física e psicológica (esta ninguém quantifica nem fala dela porque não dá espectáculo para o exterior - e se a senhora ministra criasse umas grelhas para avaliar e quantificar a violência psicológica de que são vítimas os docentes?) marcam hoje o dia-a-dia de muitas escolas e o quotidiano profissional de muitos docentes.
As causas não têm a ver apenas com as alterações no plano social e familiar, a perda de valores, a confusão entre liberdade e irresponsabilidade, o laxismo e facilitismo da educação infantil portuguesa ou o alargamento de fenómenos de marginalidade e pobreza na sociedade.
Decorre também do desrespeito pela profissão docente, e da sua desautoriação pública, veiculados pelo actual Governo e pela própria ministra da Educação.
No próximo post abordarei as consequências da confusão entre laxismo/facilitismo educativo com a liberdade, no pós 25 de Abril de 1974, no sector educativo. Facilitismo que o actual governo tem acentuado, não relativamente aos professores, para com os quais é autoritário e tem um misto de mão de ferro e desprezo, mas face à responsabilidade dos estudantes e famílias no sucesso/insucesso escolar e educativo. Pois, mas o Governo quer é ganhar apenas a opinião pública...
Ainda:
Elementos sobre o estado da Escola Pública 1: condições de trabalho
Elementos sobre o estado da Escola Pública 7: violência camuflada I
Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II
Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III
Elementos sobre o estado da Escola Pública 15: Violência (des)camuflada IV
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo não vem de cima]
Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
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