Esta cena coquette do projecto do teleférico do Rabaçal é elucidativa da mentalidade e cultura que lhe está a montante: superficial e sem autenticidade.
Já tínhamos chamado os nomes apropriados a mais esta cena (simulação) do projecto, mas é sempre possível glosar o tema um pouco mais além.
Esta imagem de glamour, que ficaria bem numa revista cor-de-rosa, nada tem a ver com o Rabaçal.
A moça com um vestido, para sair à noite, ir ao Casino ou desfilar numa passerele, nada tem a ver com os turistas transpirados, enlameados e apetrechados com equipamento de montanhismo para as suas caminhadas pelas levadas.
Nem tem nada a ver com os madeirenses que vão ao Rabaçal fazer uma espetada. No bar in da imagem não há vestígios da nossa gastronomia.
Tudo tem lugar no contexto próprio, como é evidente.
Demonstra que o teleférico visa atrair um certo tipo de pessoas para tomar chá num bar panorâmico de arquitectura vanguardista e não para caminhar pelas levadas e disfrutar do lugar.
Tudo isto é o contrário da paisagem milenar e autêntica do Rabaçal, na relação que proporciona com a natureza genuína.
Textos anteriores:
Previous posts:
Rabaçal at risk in Madeira Island I
Rabaçal at risk in Madeira Island II
Rabaçal at risk in Madeira Island III
Rabaçal at risk in Madeira Island IV
Rabaçal at risk in Madeira Island V
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Nélio,
ResponderEliminarVou exprimir-me livremente. Sem querer passar graxa, a verdade é que gosto muito deste blog e tenho-o dado a algumas pessoas como uma boa referência para compreender a Madeira. Uma das crítica que faço ao blog é que cria a ilusão que é um blog da oposição, uma vez que nele, não me recordo de ver traçado algum elogio ao poder regional. Mas daí também não decorre qualquer gravidade uma vez que não posso pressupor que o governo regional os mereça. De uma forma pessoal acho que tem os seus méritos, apesar dos seus notórios defeitos. Pelo menos possuo franca dificuldade em aceitar um governo que insiste em fazer política à porta da igreja. Falar de política regional tem sido para mim uma dificuldade, pelo menos no continente, mas isso é outra história. O que me move neste comentário é que discordo com o argumento apresentado no post. O que me parece é que as pessoas são livres de ir ao Rabaçar como querem, de chinelos, vestido de noite, cuecas ou com bola vermelha no nariz ou até pijama. E podem passear-se no Rabaçal como querem. Sãolivres para isso e não vejo grande dano do ponto de vista moral ou natural. Pode ser que alguém queirair para o rabaçar fazer a porcaria duma meditação new age, outros vão lá por puro deleite, outros por lazer e passeio, outros para ver, sei lá, as aves, etc. Não é isto que se coloca em causa. O problema que me parece ser colocado é se é moralmente correcta alguma intervenção no Rabaçal em nome do turismo. È inegável que o Rabaçal é um tesouro da ilha, mas é igualmente inegável que o turismo é também um tesouro da ilha. São tesouros com dimensões diferentes, mas com valor para quem cá vive. E depois também não podemos ter a certeza do queé que os turistas querem ver na ilha. À partida querem ver a natureza, correcto, mas muitos quererão somente descansar num bar qualquer a vislumbrar a natureza, outros gostam mais de fazer compras, outros engatar miúdas, etc. será que a Madeira não pode encontrar uma relação de equilibrio com toda essa oferta? Eu por exemplo, há alguns anos, esperava da ilha comer muito peixe, já que adoro peixe e ainda não me importo que se assassine em massa os peixinhos para os comer. mas quando cheguei à madeira fiquei impressionado que aqui come-se muito mais carne que peixe, e carne que vem de fora, quando temos o mar à nossa frente. Em princípio pensei: fazem vida de ricos, mandam vir de fora que pescar dá trabalho. Em partes ainda penso assim, mas hoje em dia conheço melhor a realidade da produção de carne em países da america, de todo o desastre ecológico que a produção e consumo de carne provoca. Por essa razão, quando vejo um madeirense comer espetado acho um atentado moral contra o planeta, provalemente muito maior do que o do Rabaçal. Digo eu!
abraço
Há o reconhecimento de aspectos positivos do poder político regional no Olho de Fogo.
ResponderEliminarRapidamente, cito alguns exemplos em textos deste blogue (não devo é andar sempre a bajular o poder porque isso fica sempre mal e não é natural - qualquer poder precisa é de massa crítica a fiscalizá-lo, para ser melhor, não de panegíricos. Os elogios normalmente ficam a cargo de quem está conectado,dependente e comprometido com esse poder):
«mérito de colocar a Madeira no mapa face ao centralismo do Estado»; «toda a obra feita»; «a obra é inegável, as conquistas autonómicas foram muitas»; «e nisto o PSD e Alberto João Jardim têm razão, de acordo com os relatos de quem utilizou a estrutura [novo terminal no aeroporto da capital]de «terceira categoria», como referem açoreanos»; «mesmo que se discorde do estilo, dos métodos, da estratégia e do modelo de desenvolvimento, Alberto João Jardim precisou de um braço-de-ferro para conseguir vantagens para a Madeira nos pós-25 de Abril. A Madeira e a Autonomia parecem correr o risco que assistir a retrocessos devido às novas regras da relação financeira com o Estado»; «a Autonomia regional pode sofrer um revés com a nova LFRA»; «a situação financeira do país não justificará, na totalidade, certos avanços e soluções da Lei de Finanças das Regiões Autónomas. Estará o rigor das finanças públicas a ser confundido, de forma oportunista, com cortes deliberados à RAM? Cortes que podem fazer retroceder algumas conquistas autonómicas?»; «até que ponto o ataque a Alberto João Jardim e a Marques Mendes cabia ou não discurso do primeiro-ministro, na Assembleia da República, na discussão do Orçamento de Estado? Há quem o justifique pelo estilo político do presidente do Governo Regional. Há quem veja no discurso de Sócrates uma acção partidária, que não caberia num discurso de Estado, nem no palco da Assembleia da República»; «Alberto João Jardim demonstra mais uma vez ter um sentido de realismo e pragmatismo na condução de certos assuntos, que se adapta e responde ao contexto socio-cultural e à mentalidade madeirenses»; «três décadas de governo explicam-se também pelo mérito de, há 30 anos, Alberto João Jardim ter sabido ler, com elevada perspicácia, a mentalidade madeirense e ter sabido estruturar uma governação que conseguisse tornar a Madeira governável. O tal evitar da «bulha», sobretudo em período pós-revolucionário [esta última passagem está aqui: http://olhodefogo.blogspot.com/2008/01/leis-do-homem.html].»
Ou, já agora:
- Anti-ninguém I (Tratar temas e não pessoas)
- Anti-ninguém II ( ilustrada uma mentalidade)
- Anti-ninguém III («Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz»)
O meu argumento não é de criticar o tipo de roupa com que se vai ao Rabaçal, apesar de haver vestuário mais apropriado para tal visita. As pessoas são livres.
O problema está em comprometer, de forma irreversível, a autenticidade de um lugar, para algumas pessoas irem a um bar panorâmico tomar um chá ou um whisky de smoking ou de salto alto.
Penso que não será esse o turismo que interessa à Madeira. Um turismo que precisa de romper com o equilíbrio entre o exotismo e a sofisticação vai comprometer o seu futuro.
Há outros destinos mais adequados para o engate ou para as compras.
Sabemos que o preço por cama na Madeira tem vindo a baixar. Ou queremos turismo de qualidade ou não queremos. Ou queremos todos os proveitos no mesmo saco, de forma avarenta?
Também prefiro peixe.
Ok Nélio,
ResponderEliminarDizer bem não é necessariamente bajular. Já não recordo se usei a palavra "elogio" (estou com preguiça de ir lá acima ler o meu comentário), mas realmente a palavra "elogio" não é adequada, já que podemos exercer a nossa capacidade crítica mesmo dizendo bem, mostrando, por exemplo, exemplos relevantes de como a actuação politica se deva exercer.
Em relação ao Rabaçal o mérito aparece desde logo quando coloca o problema, pois ele tem de ser colocado. De resto, levantei a questão pois o que me parece problemático não é proprimente a estética da coisa (pode haver quem não goste, sequer, da natureza da Madeira). O problema surge quando os actos de uns podem vir a prejudicar a acção de todos.
abraço