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Steve Ballmer, presidente executivo da Microsoft, esteve há dias em Portugal e disse, nomeadamente à Visão, o que pensava do pequeno portátil Magalhães, que tanta "porrada" tem levado (não admira já que está preparado para resistir a «impactos fortes»):
«Somos grandes apologistas de tornar os computadores mais baratos. É um produto para o segmento baixo, sem qualquer dúvida,mas é um computador muito bom. O Magalhães está muito bem pensado, muito bem desenhado. A solução da pega é muito boa, é à prova de água e resistente a impactos fortes. Permitirá a qualquer criança de 6 anos ter um computador. E isso não foi feito em nenhum outro país.»
O mérito de Portugal ter sido pioneiro é inegável, sobretudo associado às escolas. O Executivo nacional leva à prática o conceito desenvolvido pela Intel.
É claro que há um potencial de negócio para as empresas de hardware e software. Imagine-se se alguns outros países levarem a mesma ideia à prática como Portugal está a levar.
Contudo, o patrão da Microsoft não se debruçou sobre a pertinência pedagógica para estudantes do 1º ciclo do ensino básico (tema já abordado em outros posts deste blogue, linkados em baixo), para os quais o Magalhães é sobretudo um brinquedo, que irá ao chão um cem número de vezes.
Neste nível de ensino, as técnicas tradicionais de aprendizagem, mais analógicas, não serão mais eficazes e proveitosas? Será mesmo essencial dar um computador individual para o contacto com as tecnologias de informação no 1º ciclo? A estas questões ninguém respondeu.
Nem interessa responder. São perguntas que até parece mal colocar, porque dá a sensação que se está contra a dádiva ou se quer comprometer o futuro de Portugal...
A Microsoft defende computadores mais baratos. Claro, significa vender mais do seu software.
Steve Ballmer acha que o Magalhães está «muito bem desenhado», que contrasta com a nossa opinião.
Essencialmente devido à pega. Por mais que esteja justificada por razões de transporte e mobilidade, achamos feia, por vulgarizar o objecto (assemelha-se a uma lancheira) e ficar ali aquela protuberância que ocupa espaço, adiciona peso, aumenta as dimensões do computador e é inestética. Dará jeito para miúdos - não se esqueça que o andam a vender (impingir) a adultos -, mas é feio.
E será que o revestimento azul, no prolongamento do qual se encontra a pega, não tende a descolar com o passar do tempo?
Memória:
Caso Magalhães 6
Caso Magalhães 5
Caso Magalhães 4
Caso Magalhães 3
Caso Magalhães 2
Caso Magalhães 1
Programa e-escola, o outro lado
Programa e-escola, que proveitos?
Ilusão de Sócrates
Olá Nélio,
ResponderEliminarEm relação ao argumento estético estamos conversados: Não aprecio a pega, mas gosto do Pc e o preço, comparando com os concorrentes, não me parece mau de acordo com as características. Em relação ao potencial pedagógico também não me parece que careça de grandes explicações. No tempo das lousas seria interessante que os governos favorecessem a aquisição das mesmas, o mesmo se passando com o tempo dos cadernos, do quadro de ardósia e dos computadores. Eu daria ao meu filho (se tivesse idade) o Magalhães sem reservas, mas acompanhá-lo-ia a saber usar o PC sem reservas. Finalmente. O Magalhães é um negócio. Pois é, e depois? Não vejo qual é o problema já que não me passou pela cabeça que as pessoas envolvidas na concepção do produto possam viver do ar que respiram. Um destes dias observei um colega a falar do aumento da função pública no orçamento 2009. Dizia: “Ah esse aumento é uma utopia já que pagaremos mais IRS”. Por acaso isto não é bem assim, mas com reacções destas fico a pensar se esta gente quer mesmo mudar alguma coisa ou se quer deixar tudo quietinho. Sou professor há 13 anos entre continente e Madeira e, em todas as escolas que passei, em todos os lugares, ouvi os professores queixarem-se da falta de computadores, de condições etc… foram muitas vezes que ouvi comentários como: “os estudantes ingleses tem condições para ter o seu computador”. Hoje uso o e-mail para receber e enviar TPC, para tirar dúvidas, divulgar textos e pequenos trabalhos, tenho um blog também pensado para os meus alunos, tenho um dicionário on line da minha disciplina no site da escola, posso, enfim, sem reservas dizer aos alunos que só aceito os trabalhos em formato Word já que no Word o sistema de correcção é muito mais adequado ao ensino do que escrever comentários a esferográfica vermelha que muitas das vezes os alunos não entendem, etc. Mas também recordo que quando as escolas começaram a comprar computadores, muitos colegas diziam que a escrita em computador oculta a personalidade. E ainda o ano passado ouvi alguém dizer uma barbaridade dessas. Bem, eu terei perdido a personalidade (por muito que nunca ninguém o tivesse topado) já que escrevo somente no PC, mas ganhei em esforço e organização do trabalho. Mais uma coisa. Quando surgiu o e-escolas eu não pude deixar de rir com um argumento por sinal muito disseminado: “ah, o PC custa 150€, mas se fizeres as contas ao preço da net fica por 750€”. Ora, eu comprei um PC de 12” precisamente por ser mais portátil e para o poder levar todos os dias para a escola (uso-o para tudo, desde exibir um powerpoint, jogar, mail, actas, etc.). na altura o programa e-escolas não oferecia portáteis tão pequenos. Paguei 800€ por ele. Pago cerca de 25€ mensais pela net. Quererá isso dizer que o preço final do meu Pc é de 800€ mais 3 anos a 25€ mês??? Este argumento nem merece resposta. A verdade é que, mesmo os meus alunos que nunca tinham tido um PC hoje tem-no. Por turma somente 1 ou 2 alunos é que não tem PC e isto porque estão à espera que chegue o da e-escolas. Eu devo ser muito tontinho, mas continuo sem perceber qual é o problema com o e-escolas e o e-escolinhas. Bem e isto para não falar que o preço dos portáteis desceu ainda mais para o público geral, após a iniciativa concorrente do governo do e-escolas, chegando a existir lojas particulares que passaram a oferecer pc`s a preços muito baixos com ligações à internet. Se eu fosse psicólogo saberia fazer um bom estudo intitulado: “Patologia Lusa: preso por ter cão e por não ter cão”
Mais uma notita: não percebi todo aquele alarido com a formação do Magalhães. Tenho dezenas de formações feitas e 50% ou mais delas são naquele estilo, verdadeiras palhaçadas sem qualquer interesse para a minha prática lectiva diária. Excepuando meia dúzia de casos de formação realemnte bons, a minha formação é sentado em casa a ler e a aprender. mas gostava de ter formação de qualidade. Talvez via video conferência um dia, mesmo contra as vozes que se levantarão a alegar que a video conferência não é boa porque não se nota se o conferencista usa peruca ou o cabelo é real. Ora bolas!!!
abraço
Viva.
ResponderEliminarO e-escolinhas e o e-escolas não podem ser confundidos tendo em conta as faixas etárias a que se destinam.
O computador individual faz mais sentido no 2º e, sobretudo, a partir do 3º ciclo.
Eu estou a funcionar com blogues, de escrita e de divulgação de actividades escolares, e portfólios digitais online. Tem sido um entrave o facto de boa parte dos alunos (3º ciclo) não terem computador e/ou ligação à Net.
Por isso, sonho com o dia em que os estudantes tenham computador e possam estar online sempre que desejem.
Se eu dissesse aos alunos que só aceitaria os trabalhos em formato Word estaria a introduzir duas velocidades, isto é, a discriminar os que não têm computador. Deveriam as escolas a proporcionar os meios suficientes para os alunos poderem realizar tarefas escolares. Desta forma são os alunos a terem de comprar as máquinas.
Utilização das novas tecnologias sobretudo para conhecer, aprender, ganhar competências e não quase em exclusivo para actividades de lazer como os jogos. Senão transforma-se num mero brinquedo e seria, nesse caso, mais adequado uma PlayStation.
Como bem escreveu Pacheco Pereira, «não é líquido que a aparente evidência de que quanto mais cedo for a exposição ao mundo dos computadores, através da opção pelo computador individual (um elemento básico desta escolha é a individualização da máquina), melhor será a aprendizagem e a info-inclusão.»
Nas escolas do 1º ciclo não seria difícil entregar às escolas computadores suficientes para os alunos os poderem utilizar sempre que necessário. A individualização da máquina não é essencial neste nível de ensino.
Sobre o negócio, há o pormenor de envolver o Estado (dinheiro dos contribuintes) e os contornos desse negócio não podem ser opacos. A Visão desta semana refere: «MISTÉRIO: Afinal quem paga o Magalhães?» A revista fez as contas e conclui que «muito está ainda por esclarecer».
Finalmente, quanto à formação do Magalhães, o problema maior é o facto do mesmo Ministério da Educação, que queria acabar com certo tipo de formações (muitas delas muito relevantes, o que é pena terem acabado) e decidiu apostar na formação estritamente disciplinar (como se os profs estivessem mal formados cientificamente pelas universidades...), patrocinar agora o mesmo tipo de formação que quer irradicar. O Magalhães tudo justifica.
É fundamental não criticar por criticar, sem honestidade intelectual ou fundamento, mas também, por haver um lado positivo, não podemos fechar os olhos aos aspectos negativos, insuficiências, engenharias financeiras opacas, propagandas entre outros "pormenores".
Abraço:)
Nélio,
ResponderEliminarRealmente peço aos alunos os trabalhos em word. Mas admito que lhes dou uma margem larga para entraga dos trabalhos precisamente para contemplar aqueles que precisam de usar os pcs da escola e admito também que se tratam de alunos de secundário, o que altera as regras do jogo.
Em relação ao Magalhães, o que eu pretendi mostrar é que não se defende ou objecta os objectivos do computador com o argumento estético. Mas só quis mostrar isso mesmo. De resto o Nélio é absolutamente livre de gostar ou não do PC, de o achar bonito ou não. Se eu comprar um até lhe vou colar um autoclante dos Ramones em cima. Estive com o PC na mão e ele é robusto para os miúdos.
Abraço e bom fim de semana :-)