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Concordo em absoluto com a perspectiva de que a opressão não pode ser justificada apenas pelo carácter e características dos opressores.
Na dominação não há só dominadores. A dominação não depende só de quem oprime. Há também dominados, cujo carácter e caraterísticas podem estimular a opressão, isto é, criar o terreno propício para o surgimento de dominadores.
João Bernardo, citando Jean-Paul Marat (em Algumas reflexões acerca de "A Quinta dos Animais": Abril 2008: A Quinta dos Animais de George Orwel: Antígona), refere que «não é a tirania que provoca a submissão mas, obedecendo à sequência inversa, são os mecanismos da submissão que propiciam o aparecimento do tirano.»
Segundo o presidente do Parlamento da Região, em 1976, Emanuel Rodrigues, a «tolerância e o respeito pelas minorias são valores de alguma maneira espezinhados» na Madeira. Contudo, muitos são os que se deixam espezinhar voluntária e alegremente.
Os submissos e dominados - movidos pelo pequeno interesse pessoal ou pelo comodismo endémico - não são nada inocentes. Não é politicamente correcto dizê-lo (os políticos, esses, nada podem dizer para beliscar a "superioridade" do povo eleitor) mas é a realidade.
Meus caros amigos, apesar de todos os escândalos e desgovernos, a vida na Madeira decorre normalmente, sem se questionar a "ordem natural" das coisas, numa anestesia que é geral. Os tais mecanismos de submissão fazem parte dos genes dos madeirenses, povo que se fundiu com as próprias cangas que carrega às costas há séculos.
O poder que governa a Madeira, há décadas, como outros antes, soube engajar-se, com mérito, nessa condição madeirense. Não há grande volta a dar no curto ou médio prazo. É transversal a toda a sociedade, tal como a toxicodependência.
A propósito, lembre-se ainda outro texto: Raízes do medo: contexto socio-mental e medo de ideias diferentes.
E este estado de coisas não muda. Como já dissemos, interessa a ambas as partes, quem governa e quem é governado. O madeirense nunca trocará pão por liberdade ou transformação cultural e social.
Por isso, eterniza-se o ambiente de aceitação acrítica da governação e do embevecimento perante qualquer obrazinha de betão edificada.
Trata-se de uma submissão a toda a prova, inebriada, anestesiada. Não há forma de despertar deste estado comatoso nos tempos mais ou menos próximos.
Como escreveu George Orwel, as «revoluções só conduzem a melhorias significativas quando as massas estão alerta e sabem expulsar os líderes assim que estes cumprem a sua missão.» Por cá mantemos os líderes de forma vitalícia, como se de um reinado se tratasse.
A Madeira é uma sala de recobro, em que a sociedade civil nunca vem a si, nunca desperta para a vida, não ganha massa crítica, nunca acorda para a transformação. E isto sair-nos-á caro no contexto de uma economia globalizada.
Parece que nós madeirenses não «trazemos no genoma a vontade indomável de defender e preparar os filhos para uma vida melhor do que aquela que nós próprios tivemos» (G.F. Diário 29.9.2008).
Recorde-se que o madeirense, que é capaz de matar por causa da água de rega, mantém-se cego, surdo e mudo perante decisões que têm efeitos sociais negativos e elevados custos na vida do dia-a-dia. Nem pelos filhos esta gente reage.
Desgraçados os que acreditam no contrário disto, a troco de nada, porque deles será o reino das desilusões. A revolução cultural está adiada sine dia.
Mais em:
Anestesia geral
E chamam a "isto" um povo superior! Se em ditadura a responsabilidade pela opressão duradoura não pode claramente ser assacada aos oprimidos o mesmo não se pode dizer duma democracia. Em democracia, musculada ou não, todos os que tem idade para votar são cumplíces...Em ditadura pode haver desculpas para a inação dos cidadãos, em democracia não!
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