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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

«Cultivada e filosofada bandalheira educativa»

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A «degradação de um ensino sem culto do trabalho, da disciplina democrática, da exigência no saber e da formação pessoal» foi tema de um texto publicado por parte do presidente do Governo Regional, em artigo de três de Fevereiro de 2014, numa altura em que a «permissividade e relativismo triunfantes» (JM 17.2.2014) também minam e ameaçam a (qualidade da) Educação.

E na Madeira? Será diferente ou mais do mesmo face à denominada «bandalheira educativa do rectângulo»?

A disciplina não se restringe aos aspectos comportamentais e cívicos no respeito pelos outros. A falta de disciplina estende-se ao à falta aguda de cultura de trabalho, métodos de trabalho, estudo, que é a base que permite ser melhor e obter melhores desempenhos e resultados, seja em que área for.

Tanto a aprendizagem como o civismo não podem ser apenas fenómenos espontâneos - é preciso base de trabalho, esforço e mesmo sacrifício. O laxismo, o desleixo, a desorganização, a desestruturação, o pensamento errático, o fazer em cima do joelho, sem ângulo e objectivos, entre outros aspectos, conduz à mediania e mediocridade. Por isso, também, está o País como está, falido, num beco sem saída e sem esperança.

Como disse Marco Gomes (Diário de 30.10.2008), director da Escola da APEL, escola privada madeirense, que durante cinco anos foi director pedagógico do Colégio Manuel Bernardes em Lisboa, «não tenho dúvidas de que os alunos madeirenses são diferentes dos de Lisboa», onde a «competição, o esforço e o tempo dedicado aos estudos era muito maior». Acrescenta que não é fácil motivar quem chega desinteressado, «quem não está disposto ao sacrifício e a estudar».

Muito se progrediu face ao enorme atraso que a Educação conhecia na Região nos anos 70, ninguém pode negar esse salto e aposta governativa, mas foi pena perder-se alguma da cultura de trabalho e esforço das gerações anteriores, que lutaram, tenazmente, para sobreviver neste arquipélago.

Serão sinais dos tempos, da decadência da civilização ocidental, em que as gerações que cresceram nos tempos de vacas gordas (bem-estar material) deixaram, talvez, de valorizar o esforço e o trabalho na conquista de melhores condições de vida e fuga à miséria. Ainda por cima num País em que funciona mais a carteira de contactos e a cunha do que a competência, o esforço, o trabalho e o desempenho das pessoas. É um ambiente social, reconheça-se, desfavorável à cultura de trabalho e à competência, já que não premeia o melhores e mais capazes, pelo contrário, antes os sobrecarrega e maltrata.

É triste ver que a democracia que chegou ao País com o 25 de Abril de 1974 não tenha mudado este rumo e tenha antes aumentado o laxismo e a falta de cultura de trabalho.

Há que travar, pois, estruturalmente, a degradação da cultura de trabalho, esforço e método, além da degradação ao nível comportamental e cívico nas escolas. Nomeadamente, à semelhança do que se preconizou para o desporto, como refere o mesmo artigo citado: «A vida é competição com legítimo desejo de vencer, mas com regras, exigente nos esforços, com respeito pelos outros e pressupondo trabalho colectivo interdependente.»

Numa «estratégia que foi preciso desenvolver para que a cultivada e filosofada bandalheira educativa do rectângulo não se estendesse à Madeira, considerou-se o Desporto como factor educativo essencial». Acrescentaria que tirar «jovens sem ocupação de tempos livres, esfregando os rabos pelas esquinas da baixa citadina, fumando “passa” e cultivando angústias existenciais (tão “progressista”!...)», poderia ter passado por outras culturas, que não só a desportiva.

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