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quarta-feira, dezembro 30, 2009

Professores de luto e em luta 182: falhou acordo

Não há razões para aplausos: por alguma razão nenhum sindicato assinou hoje o acordo com o Ministério da Educação. A FENPROF deu conta dos problemas.
(c) Paulo Jorge Figueiredo

Quanto ao modelo de avaliação a Ministra da Educação diz haver acordo com os sindicatos. «Houve muitas aproximações» entre o Ministério da Educação e os sindicatos, afirmou Isabel Alçada hoje no telejornal das 22h00 na RTP2. Afinal, os sindicatos também fazem cedências e trabalham para a convergência de posições.

Não há acordo é quanto à carreira. A ministra afirma que os sindicatos querem que quase todos os professores cheguem ao topo. Mário Nogueira da FENPROF referiu também hoje que os professores que são avaliados como Bons, se lhes é reconhecido mérito, devem poder progredir. Até os Muito Bons e Excelentes são sujeitos a quotas.

Por seu lado, Isabel Alçada alega que, quando se fala de Bom estamos a falar de quase todos os docentes, já que apenas cerca de meio por cento dos professores foram avaliados com suficiente e insuficiente até agora. A ministra diz que isso se deve a uma falta de cultura de avaliação profissional.

Assim, está a dizer que os Bons não são realmente Bons. Ou melhor, não podem ser todos Bons. Quer dizer que o modelo de avaliação não funciona? Se os professores são avaliados como Bons sem o serem, algo de errado se passa...

Acontece que os Bons progridem mais lentamente, ou seja, são penalizados, mas há pontos atribuídos dentro do Bom para os diferenciar (a cenoura na ponta do pau). os Quanto aos Muito Bons e Excelentes, eles progridem como já acontecia antes (mas a ministra diz que é mais rapidamente...) e também estão sujeitos às quotas...

Não há prémio nenhum o que anda o Ministério da Educação a vender como recompensa para os que se melhores. Na prática, dá menos do que o habitual (o que já era norma) aos melhores e penaliza a maioria. E assim espera que os professores se motivem para serem melhores quando sabem que dois terços estarão impedidos de chegar aos escalões melhor remunerados.

Para os Bons serem travados na carreira não bastava o modelo de avaliação do desempenho e, por isso, foi criado um sistema de quotas/vagas em três escalões: 3º, 5º e 7º. Ainda por cima, a não há garantias que a dita «fixação anual de vagas» aconteça todos os anos. Basta o Governo invocar a crise, as indicações do FMI, as estatísticas de organismos de pendor económico como a OCDE e já está tudo justificado para não haver vagas por uns anos. E não se sabe que número de vagas serão abertas todos os anos.

A Ministra da Educação invoca o interesse público, alegando que o investimento nos recursos humanos no sector tem de ser sustentável. Isto é, tem de haver cortes. Daí invocar a crise, os desempregados e argumentar que a carreira docente tem de estar alinhada com as carreiras no sector público (como se a profissão docente fosse administrativa e o acto de educar não fosse específico), que têm vagas, para não haver «situação de privilégio» para os professores. Só faltou dizer que os salários dos professores são a causa da crise e da ruína do país...

Só por acaso não se lembraram de baratear o trabalho dos professores noutras crises passadas... Pois, andam pressionados pelas razões economicistas do FMI e de outros defensores dos grandes interesses da alta finança.

Se de facto a preocupação são os recursos públicos, então o Governo e os portugueses deveriam preocupar-se no despesismo inútil do Estado:

Repetição de tarefas e ineficiência devido à burocracia, a corrupção generalizada, o tráfico de influências, a quantidade enorme de boys e girls improdutivos - mas pagos principescamente - vindos dos partidos, os boys e as girls incompetentes e sem mérito que progridem para o topo das carreiras, as mordomias dispendiosas como carros pretos com motorista, despesas de representações, telemóveis e cartões de crédito, entre outros.

Em vez disso, preocupam-se em cortar a remuneração do trabalho suado da grande maioria dos professores.

Recorde-se:
Algumas razões para não assinar acordo
Os professores em início de carreira ainda mais penalizados
Se o Governo diz mata o FMI diz esfola
Baratear ainda mais o trabalho dos professores II
Baratear ainda mais o trabalho dos professores I

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