O intuito é de apenas contribuir para uma visão estrutural, abrangente e, por conseguinte, estimular a consciência não só das melhorias mas também das não-melhorias da proposta de Estatuto da Carreira Docente Regional (ECDR) relativamente ao ECD nacional. Custa a entender a sensação de orfandade e de perdição de alguns docentes assim que o ECDR foi adiado face à crise política na Madeira e às eleições regionais antecipadas. Quando nos sentimos a naufragar, tendemos a nos agarrar à primeira bóia de salvação que nos atiram. Será que a bóia de salvação chamada ECDR é tão distante do Estatuto nacional, como foi promovido e, à primeira leitura, parecia? Lá para trás alertámos para o perigo de a emenda ser pior do que o soneto. Não será pior, mas que dizer se a emenda acabar por ser igual ou demasiado próxima do soneto?
Perante alguns relatos de professores que, face à proposta de ECDR, prometem votar, pela primeira vez, em Alberto João Jardim, isto é, no PSD-M impõe-se uma reflexão. Não para demover ninguém nas suas opções e convicções, longe dessa tarefa árdua, embora existam muitas mais e melhores razões (vide aqui ou aqui) para votar no PSD, nas regionais antecipadas de Maio. Até o voto de protesto contra o Ministério da Educação (e Governo Socialista) justificará melhor esse sentido de voto do que o próprio ECDR.
Não é por acaso que o Sindicato Democrático dos Professores da Madeira - conotado com o PSD-M, como o Sindicato dos Professores da Madeira tem sido conotado com o PS e outras forças de esquerda: não é um juízo de valor, trata-se apenas da realidade conhecida ou atribuída -, tem colocado sérias dúvidas sobre alguns aspectos (soluções) do ECDR. Não o receberam com euforia: esfrearam logo os ânimos daqueles que viam no ECDR uma salvação do inferno e tendiam a minorizar ou a desvalorizar os aspectos que continuam a penalizar a profissão docente na proposta regional. O SPM, apesar de apontar vários problemas na proposta regional e ter sugerido alterações e progressos, tem salientado as melhorias face ao documento nacional. Tem manifestado mais optimismo e entusiasmo do que o SDPM face ao ECDR regional. Pelo menos, nesta fase.
Ninguém pode negar que a proposta de ECDR contém melhorias e é mais favorável. Já o dissemos aqui, na altura, com a ressalva de não conhecer-se então todo o documento. E também alertámos, depois de conhecer mais alguns pormenores, que surgiam algumas dúvidas se seria assim tão mais favorável: integração na carreira nacional, viabilização legal do ECDR e o momento político em que surgia. Depois de leituras comparadas, já podemos, adiante, dizer mais algumas coisas.
A tendência é cair nos extremos. Sabemos que o ECD nacional é penalizador da profissão docente e, por arrastamento, da própria Educação, porque não podemos separar as condições de trabalho dos professores das condições e da qualidade das aprendizagens dos alunos. No entanto, não vamos dizer que é o fim do mundo, embora dê jeito (e nos conforte) o dramatismo vitimizador. Ou é o céu que os docentes querem ou então é o caos e o inferno? Por outro lado, sabemos que a proposta de ECDR é mais favorável do que o documento nacional em aspectos essenciais como a carreira horizontal, sem quotas ou categorias (pelo menos como foi anunciado). Vamos dizer que essas melhorias fazem do ECDR um paraíso e a salvação do inferno? Mais do que isso, vamos fechar os olhos aos aspectos penalizadores e às armadilhas (como a prova no 6º escalão - mais adiante desenvolvemos o assunto) da proposta do ECDR?
Posto isto, vamos então ver se o ECDR está assim tão distante do ECD nacional, como no início se chegou a pensar. Os professores madeirenses querem todos que esteja, e oxalá que sim, que venha a estar muito distante, para melhor, do que Estatuto do Ministério da Educação de Maria de Lurdes Rodrigues. A expectativa é expurgar a proposta regional dos seus aspectos negativos, aos quais os profressores não podem (bem, até podem, se a ilusão os consola) nem devem fechar os olhos.
Nota: por favor, ler posts seguintes, a publicar nas próximas horas e dias, com a análise dos principais problemas da proposta de ECD Regional.
ECD Regional I
ECD Regional e Educação na RAM II
A imagem que os professores me foram dando ao longo da minha vida de estudante e de pai, e muito má. Primeiro, enquanto estudante, tinha horários com tres horas de furo a meio do dia. Agora como pai, verifico qe os professores, MADEIRENSES na sua grande maioria, fazem os testes apenas ate à terceira semanna antes do fim das ferias para depois corrigirem na segunda, e ao contrario daquilo que se passa em CUBA, reunem na ultima semana de aulas. Afixam as pautas e iniciam férias a que não deveriam ter direito. Espero bem que esse ECDR nunca venha a ser aprovado.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. Sei que as pausas escolares incomodam, como se o trabalho docente se resumisse ao momento da aula, a parte visível (ponta do iceberg). Se os alunos não estão na escola, conclui-se que nada fazem...
ResponderEliminarNem todas as escolas realizaram a avaliação na última semana de aulas. E onde isso aconteceu os docentes tiveram de trabalhar a dobrar, pela noite e fim-de-semana dentro. As pausas lectivas, que denomina de férias, destinam-se a esse trabalho de avaliação, a reuniões diversas, a formação e ao trabalho individual (as aulas têm de estar planeadas e preparadas para quando começa o novo período escolar, o que é feito em casa). Não vamos cair na demagogia de generalizar casos que, infelizmente, dão má imagem dos professores ou de outra classe profissional qualquer e entrar no discurso do «pôr na ordem». Relembro a respeito das pausas escolares e da desvalorização dos professores, muito comum hoje, com o Ministério da Educação a dar o exemplo, para justificar certas medidas e conquistar a opinião pública: aqui, aqui, aqui ou até aqui.
Tretas, a grande maioria são assim como eu digo e penso.
ResponderEliminarJá fiquei até as tres horas da manhã a ajudar a minha filha, que entratanto chorava, porque tinha que entregar um trabalho de matemática, na quinta e um de português na sexta, numa semana em que os professores marcaram 5 (cinco testes), para reunirem na ultima semana de aulas, e injustificadamente iniciarem as ferias da páscoa ao mesmo tempo que os alunos. A minha filha sobreviveu, mas a maior parte dos alunos e pais não conseguem acompanhar este ritmo de descordenação, que leva muitos dos alunos a desistirem. Os maus professores não são excepção. Excepção são os bons, que nunca ultrapassarão os 25%. Esta é a realidade nua e crua, sem nenhum exagero da minha parte. Escola Gonçalves Zarco.
João
Outro professora, Directora de Turma, quando eu lhe disse que noutras escolas os alunos só faziam tres testes por semana no máximo, argumentou que então eu deveria mudar a minha filha de Escola. Respondi que era aquela a escola da residência dela e que não em era possivel fazer isso, claro ( Só com cunhas, como é evidente).
ResponderEliminarPoderia enumerar-lhe imensas outras situações, mas não vale a pena . Penso que o senhor pelo que escreve e pela sua maneira de pensar, não faz companhia a estas "excepções " , mas é com esta gente que os pais terão que lidar, e é esta a situação do nosso ensino aqui na Madeira. Aliás os resultados a nivel nacional dos alunos da Madeira, só corroboram aquilo que penso e observo.
Mas vale sempre a pena lutar.
João
A regra é um teste, no máximo, por dia. Se os alunos têm uma elevada carga horária, isso é outra questão, sobre a qual tenho uma posição. Em qualquer dos casos, os pais têm de comunicar o que pensam às escolas. Poderá ser possível a regra de 2, 3 ou 4 testes por semana em vez dos 5.
ResponderEliminarEu tenho a ideia que os bons professores não são a excepção. Se na maioria fossem maus docentes, o Ministério da Educação nem precisava de impor quotas de acesso aos escalões mais altos. Estavam à partida seleccionados.
A docência é uma profissão muito exposta. Um mau professor, um erro, uma atitude menos correcta por parte de um docente repercute-se, de facto, por centenas de alunos e famílias. Daí a tendência para a generalização. O sistema precisa dos pais activos, críticos e interventivos para obrigar as escolas a tomar as medidas adequadas e não se proteger os maus profissionais ou certos erros que cometem os que se empenham e são bons profissionais. Ensinar e educar é uma tarefa que nunca se faz tão bem quanto poderia ser - é um desafio perpétuo, por vezes frustrante, face a tudo o que interfere/condiciona o trabalho do professor.
Sobre os resultados escolares da Madeira, isso tem a ver com muita coisa. Se tiver paciência, escrevi sobre o assunto em Educação na RAM. O problema, sem descartar o que cabe aos professores (parte mais exposta), é mais profundo, sistémico e complexo do que se pensa.
João, você é um democrata nato ("Tretas, a grande maioria são assim como eu digo e penso").
ResponderEliminarQuanto ao facto de ter ficado até às três horas a ajudar a sua filha, não se queixe porque não fez mais do que a sua obrigação como pai.
Para além disso, estudar exige esforço. É preciso trabalhar e duro. Não podemos continuar com a cultura do facilitismo imposta pelas gerações de 1970, 80 e 90. Portanto, se se quer obter sucesso, que se trabalhe. E isto vale para todos: professores, alunos, encarregados de educação!