«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, março 30, 2007

Professores de luto e em luta 46: ECD Regional III (introdução a uma análise)

O intuito é de apenas contribuir para uma visão estrutural, abrangente e, por conseguinte, estimular a consciência não só das melhorias mas também das não-melhorias da proposta de Estatuto da Carreira Docente Regional (ECDR) relativamente ao ECD nacional. Custa a entender a sensação de orfandade e de perdição de alguns docentes assim que o ECDR foi adiado face à crise política na Madeira e às eleições regionais antecipadas. Quando nos sentimos a naufragar, tendemos a nos agarrar à primeira bóia de salvação que nos atiram. Será que a bóia de salvação chamada ECDR é tão distante do Estatuto nacional, como foi promovido e, à primeira leitura, parecia? Lá para trás alertámos para o perigo de a emenda ser pior do que o soneto. Não será pior, mas que dizer se a emenda acabar por ser igual ou demasiado próxima do soneto?

Perante alguns relatos de professores que, face à proposta de ECDR, prometem votar, pela primeira vez, em Alberto João Jardim, isto é, no PSD-M impõe-se uma reflexão. Não para demover ninguém nas suas opções e convicções, longe dessa tarefa árdua, embora existam muitas mais e melhores razões (vide aqui ou aqui) para votar no PSD, nas regionais antecipadas de Maio. Até o voto de protesto contra o Ministério da Educação (e Governo Socialista) justificará melhor esse sentido de voto do que o próprio ECDR.

Não é por acaso que o Sindicato Democrático dos Professores da Madeira - conotado com o PSD-M, como o Sindicato dos Professores da Madeira tem sido conotado com o PS e outras forças de esquerda: não é um juízo de valor, trata-se apenas da realidade conhecida ou atribuída -, tem colocado sérias dúvidas sobre alguns aspectos (soluções) do ECDR. Não o receberam com euforia: esfrearam logo os ânimos daqueles que viam no ECDR uma salvação do inferno e tendiam a minorizar ou a desvalorizar os aspectos que continuam a penalizar a profissão docente na proposta regional. O SPM, apesar de apontar vários problemas na proposta regional e ter sugerido alterações e progressos, tem salientado as melhorias face ao documento nacional. Tem manifestado mais optimismo e entusiasmo do que o SDPM face ao ECDR regional. Pelo menos, nesta fase.

Ninguém pode negar que a proposta de ECDR contém melhorias e é mais favorável. Já o dissemos aqui, na altura, com a ressalva de não conhecer-se então todo o documento. E também alertámos, depois de conhecer mais alguns pormenores, que surgiam algumas dúvidas se seria assim tão mais favorável: integração na carreira nacional, viabilização legal do ECDR e o momento político em que surgia. Depois de leituras comparadas, já podemos, adiante, dizer mais algumas coisas.

A tendência é cair nos extremos. Sabemos que o ECD nacional é penalizador da profissão docente e, por arrastamento, da própria Educação, porque não podemos separar as condições de trabalho dos professores das condições e da qualidade das aprendizagens dos alunos. No entanto, não vamos dizer que é o fim do mundo, embora dê jeito (e nos conforte) o dramatismo vitimizador. Ou é o céu que os docentes querem ou então é o caos e o inferno? Por outro lado, sabemos que a proposta de ECDR é mais favorável do que o documento nacional em aspectos essenciais como a carreira horizontal, sem quotas ou categorias (pelo menos como foi anunciado). Vamos dizer que essas melhorias fazem do ECDR um paraíso e a salvação do inferno? Mais do que isso, vamos fechar os olhos aos aspectos penalizadores e às armadilhas (como a prova no 6º escalão - mais adiante desenvolvemos o assunto) da proposta do ECDR?

Posto isto, vamos então ver se o ECDR está assim tão distante do ECD nacional, como no início se chegou a pensar. Os professores madeirenses querem todos que esteja, e oxalá que sim, que venha a estar muito distante, para melhor, do que Estatuto do Ministério da Educação de Maria de Lurdes Rodrigues. A expectativa é expurgar a proposta regional dos seus aspectos negativos, aos quais os profressores não podem (bem, até podem, se a ilusão os consola) nem devem fechar os olhos.

Nota: por favor, ler posts seguintes, a publicar nas próximas horas e dias, com a análise dos principais problemas da proposta de ECD Regional.

ECD Regional I
ECD Regional e Educação na RAM II

6 comentários:

  1. A imagem que os professores me foram dando ao longo da minha vida de estudante e de pai, e muito má. Primeiro, enquanto estudante, tinha horários com tres horas de furo a meio do dia. Agora como pai, verifico qe os professores, MADEIRENSES na sua grande maioria, fazem os testes apenas ate à terceira semanna antes do fim das ferias para depois corrigirem na segunda, e ao contrario daquilo que se passa em CUBA, reunem na ultima semana de aulas. Afixam as pautas e iniciam férias a que não deveriam ter direito. Espero bem que esse ECDR nunca venha a ser aprovado.

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  2. Obrigado pelo comentário. Sei que as pausas escolares incomodam, como se o trabalho docente se resumisse ao momento da aula, a parte visível (ponta do iceberg). Se os alunos não estão na escola, conclui-se que nada fazem...

    Nem todas as escolas realizaram a avaliação na última semana de aulas. E onde isso aconteceu os docentes tiveram de trabalhar a dobrar, pela noite e fim-de-semana dentro. As pausas lectivas, que denomina de férias, destinam-se a esse trabalho de avaliação, a reuniões diversas, a formação e ao trabalho individual (as aulas têm de estar planeadas e preparadas para quando começa o novo período escolar, o que é feito em casa). Não vamos cair na demagogia de generalizar casos que, infelizmente, dão má imagem dos professores ou de outra classe profissional qualquer e entrar no discurso do «pôr na ordem». Relembro a respeito das pausas escolares e da desvalorização dos professores, muito comum hoje, com o Ministério da Educação a dar o exemplo, para justificar certas medidas e conquistar a opinião pública: aqui, aqui, aqui ou até aqui.

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  3. Tretas, a grande maioria são assim como eu digo e penso.

    Já fiquei até as tres horas da manhã a ajudar a minha filha, que entratanto chorava, porque tinha que entregar um trabalho de matemática, na quinta e um de português na sexta, numa semana em que os professores marcaram 5 (cinco testes), para reunirem na ultima semana de aulas, e injustificadamente iniciarem as ferias da páscoa ao mesmo tempo que os alunos. A minha filha sobreviveu, mas a maior parte dos alunos e pais não conseguem acompanhar este ritmo de descordenação, que leva muitos dos alunos a desistirem. Os maus professores não são excepção. Excepção são os bons, que nunca ultrapassarão os 25%. Esta é a realidade nua e crua, sem nenhum exagero da minha parte. Escola Gonçalves Zarco.
    João

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  4. Outro professora, Directora de Turma, quando eu lhe disse que noutras escolas os alunos só faziam tres testes por semana no máximo, argumentou que então eu deveria mudar a minha filha de Escola. Respondi que era aquela a escola da residência dela e que não em era possivel fazer isso, claro ( Só com cunhas, como é evidente).

    Poderia enumerar-lhe imensas outras situações, mas não vale a pena . Penso que o senhor pelo que escreve e pela sua maneira de pensar, não faz companhia a estas "excepções " , mas é com esta gente que os pais terão que lidar, e é esta a situação do nosso ensino aqui na Madeira. Aliás os resultados a nivel nacional dos alunos da Madeira, só corroboram aquilo que penso e observo.
    Mas vale sempre a pena lutar.
    João

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  5. A regra é um teste, no máximo, por dia. Se os alunos têm uma elevada carga horária, isso é outra questão, sobre a qual tenho uma posição. Em qualquer dos casos, os pais têm de comunicar o que pensam às escolas. Poderá ser possível a regra de 2, 3 ou 4 testes por semana em vez dos 5.

    Eu tenho a ideia que os bons professores não são a excepção. Se na maioria fossem maus docentes, o Ministério da Educação nem precisava de impor quotas de acesso aos escalões mais altos. Estavam à partida seleccionados.

    A docência é uma profissão muito exposta. Um mau professor, um erro, uma atitude menos correcta por parte de um docente repercute-se, de facto, por centenas de alunos e famílias. Daí a tendência para a generalização. O sistema precisa dos pais activos, críticos e interventivos para obrigar as escolas a tomar as medidas adequadas e não se proteger os maus profissionais ou certos erros que cometem os que se empenham e são bons profissionais. Ensinar e educar é uma tarefa que nunca se faz tão bem quanto poderia ser - é um desafio perpétuo, por vezes frustrante, face a tudo o que interfere/condiciona o trabalho do professor.

    Sobre os resultados escolares da Madeira, isso tem a ver com muita coisa. Se tiver paciência, escrevi sobre o assunto em Educação na RAM. O problema, sem descartar o que cabe aos professores (parte mais exposta), é mais profundo, sistémico e complexo do que se pensa.

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  6. João, você é um democrata nato ("Tretas, a grande maioria são assim como eu digo e penso").

    Quanto ao facto de ter ficado até às três horas a ajudar a sua filha, não se queixe porque não fez mais do que a sua obrigação como pai.

    Para além disso, estudar exige esforço. É preciso trabalhar e duro. Não podemos continuar com a cultura do facilitismo imposta pelas gerações de 1970, 80 e 90. Portanto, se se quer obter sucesso, que se trabalhe. E isto vale para todos: professores, alunos, encarregados de educação!

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