Na Madeira, Manuel Machado já percebeu que o mérito dos outros não é elemento que nos motive para suplantar e sermos melhores, mas sim para tentar aniquilar o mérito alheio.
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Manuel Machado, treinador do Nacional, referiu no dia 13.2.2009 que aquele clube de futebol «é uma colectividade de média-pequena dimensão. É periférica. Mesmo na Região, de alguma forma, torna-se mais pequena fruto de alguns factores que estou cansado de enumerar.»
E depois aborda um deles: «Há um livro chamado Tratado Sobre a Inveja, que eu aconselho que muita gente aqui na Região o possa ler. O mérito dos outros deve ser elemento que nos leve de alguma maneira a tentar suplantar e não a tentar desfazer esse mérito [alheio] através de factores e procedimentos menos correctos.» (FONTE: telejornal RTP-M, por volta dos 9 minutos).
Ora, isto não é novidade mas reforça algumas teses deste blogue. A Madeira é um saco de gatos e por isso se compreende um poder governativo de mão dura para se poder controlar esta gente que sente desgosto pelo mérito e conquistas dos outros, geradora de conflitos estéreis e do bota-abaixo leviano.
Compreende-se que, face a esta mentalidade da sociedade madeirense, foi preciso Alberto João Jardim, enquanto líder da governação, encaixar-se nela e exercer um certo nível de controlo para tornar a Madeira governável (com estabilidade política e social), mas, passados quase 30 anos, deveriam já ter sido estimuladas (concedido espaço) determinadas mudanças (revoluções) culturais e cívicas que conduzissem a uma maturação e arejamento democráticos (desbloqueios).
Até por razões de desempenho económico, já que a qualificação, nível de conhecimento, competências e capacidade de iniciativa dos recursos humanos são aspectos decisivos, para quem não quer viver só do Turismo ou do investimento público.
Num mundo moderno, concorrencial e competitivo, de busca do melhor, da qualidade e da excelência, as ideias e projectos devem prevalecer pela sua pertinência intrínseca e não por outros factores secundários (amizade, ideologia, cor política, origem socio-familiar, tráfico de influências, entre outros). É preciso não ter medo das ideias novas e da inovação, nem as esmagar.
Disse Manoel de Oliveira (Visão, 14.11.2002), sobre os portugueses: «Eles não querem ser melhores do que tu, o que não querem é que tu sejas melhor do que eles». Nesta Região tal atitude é levada ao extremo.
O espírito livre que teime em participar, em ter ideias melhores, em apontar caminhos alternativos mete-se em sarilhos sérios. É encarado como ameaça e inclusive quem manda faz tudo para isolar, anular ou descartar.
Somos uma sociedade que padece de males endémicos como a «inveja», o «gosto pelo maldizer», «a «não distinção entre qualidade e mediocridade, entre o principal e acessório», como disse o presidente do Governo Regional numa tomada de posse.
Mas sem esquecer a pouca tolerância face a ideias diferentes e à discordância; o desprezo e hostilização das minorias; a rudimentar convivência democrática; o acanhamento cidadão (resignação, cautela, silêncio, comodismo, submissão, medo); o estar a bem com deus e com o diabo; o individualismo oportunista e a pouca solidariedade, cujos sintomas são o domínio do interesse pessoal e do lema "barriguinha cheia coração contente".
Precisamos de abertura, emancipação e autonomia. A última coisa de que precisa são de estímulos (comer só do que gosta) para ficar na mesma.
Tal cultura a que alude Manuel Machado ou Manoel de Oliveira não conduz ao progresso. Serve para manter o atraso, serve para garantir que os melhores, a cada momento, não liderem. Serve para impedir a renovação e os melhores projectos. É um colete de forças. Sofremos com a cultura do bloqueio e do pequeno interesse pessoal, que conduzem ao nivelamento por baixo.
Aqui se abre uma caixa de pandora e mostram-se os elementos mais rasteiros da natureza humana de que fala Manuel Machado: a intriga, a inveja, os jogos de cintura, o calculismo, as jogatanas, as manobras de bastidores, a maldicência, a coacção moral, a valorização do comezinho e do acessório, o culto da aparência. É um estado primário de existência.
Por alguma razão se detesta, na Madeira, quem tem sucesso, em especial os madeirenses que têm sucesso no exterior, são mal amados quando acontece regressarem à sua terra de origem.
Como madeirense este estado de coisas não me alegra, mas não consigo escamotear a realidade de como somos. Sorry fellow Madeirans.
Recorde-se:
Comentários anónimos e ofensivos na blogosfera madeirense
Kuribôta
Males endémicos
Ainda os males endémicos
Tristes a olhar para o chão
Estrelato e sorte em ter saído da Madeira
Maledicência, o voodooo madeirense
A lição de Monteiro Diniz
Episódio Cristiano Ronaldo
Lição de Monteiro Diniz (intro)
Lição de Monteiro Diniz (parte 1)
Lição de Monteiro Diniz (parte 2)
Lição de Monteiro Diniz (parte 3)
E ainda:
Quadros para governar a Madeira
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Nélio,
ResponderEliminarDesculpe, mas vive em que Planeta? O mundo não é a ilha da Madeira. Xiça, basta ler a obra do Eça para topar o que você torna exclusivo da Madeira. Isto é o que eu chamo síndrome da insularidade que, desculpe, é um pouco saloio, o de pensar que os males todos radicam na ilha. Pá, infelizmente o tuga é assim. Eu não descubro diferenças de norte a sul e ilhas. Caramba homem, é completamente desajustado pensar que o Manuel Machado veio à Madeira descobrir aquilo que afinal a sua terra também tem em abundância.
Viva.
ResponderEliminarJá discutimos essa questão. Não digo no texto que certos males endémicos são exclusivos da Madeira, mas aqui fazem-se sentir com mais incidência e intensidade.
Começo a pensar que o Rolando não vive na Madeira ou então move-se em circuitos distantes da Madeira real, profunda, velha...
Penso que Manuel Machado e Alberto João Jardim (foi o presidente do governo que identificou os três males endémicos citados entre aspas no post)têm mais e bons conhecimentos da Madeira real.
Saudações.
Nélio,
ResponderEliminarÉ completamente falso que males como a inveja se vivam com mais intensidade na madeira. O Nélio é que pensa que sim porque vive cá. De todo o modo gostava de saber em que é que se fundamenta para afirmar que o Manuel Machado tem mais conhecimento da Madeira profunda? Indepentemente de se viver ou não na Madeira os discursos e argumentos ficam pobres quando são facciosos e ideológicos. No caso o seu discurso não é sequer ideológico, mas é melodramático fazendo crer uma crença injustificada. Tenho tantos dados como o Nélio ou o Manuel Machado (creio que o Alberto terá mais, não sei) para afirmar que na Madeira há mais invejeca que no continente, ou seja, nenhuns. Baseio-me na observação e experiência de vida que é exactamente naquilo que o Nélio se baseia.E não me venha com a "madeira profunda" e o "portugal profundo" para impressionar e afastar o outro da discussão. De todo o modo parte das minhas intervenções são precisamente para o alertar para um bota abaixo do olho de fogo por vezes a roçar a vagueza, e é disso mesmo que o Nélio neste post se queixa. E Nélio, precisamente por ser continental é que acho o discurso de muitos continentais na madeira profundamente hipócrita. Falam dos males da madeira, a começar pelos políticos, como se fosse uma realidade desconhecida dos continentais. Isto é hipócrisia. A sua sede de desancar é de tal ordem que um destes dias está aqui a citar o Tony Carreira para mandar abaixo. Não me parece que o Manuel Machado seja pessoa muito habilitado a articular ideias de forma clara.
O argumento deste post é claramente forçado, sem qualquer fundamento de verdade.
Ainda,
ResponderEliminarOra bem,a tese a defender no argumento é : " na madeira há mais invejeca do que no continente". Temos boas razões para apoiar esta tese. Eu acredito que não e o Nélio acredita que sim. Examinemos agora as premissas do Nélio:
Se o Manuel Machado que é continental e treinador de futebol afirma que os madeirenses são uns invejosos
Logo, é verdade que os madeirenses são uns invejosos.
Para começar o Manuel Machado não afirma que os madeirenses são mais invejosos que os continentais. Afirma que alguns madeirenses são invejosos. O mais curioso no seu argumento é a desarticulação da premissa e da conclusão. Primeiro porque a conclusão é sustentada por um argumento de autoridade e, segundo a autoridade é uma má autoridade para o que se quer defender, um treinador de futebol. Trata-se de um argumento cuja plausibilidade é quase impossível.
Não concordo que haja mais incidência na Madeira.
ResponderEliminarÉ certamente mais notório dado o meio pequeno que é, mas este síndroma é antes de madeirense, tipicamente português. Sempre foi...basta olhar para a nossa história.
Ainda assim, compreendo perfeitamente o sentido deste post. Quem nunca sentiu a pressão de um bota-abaixo a nos arruinar o trabalho?