É mais fácil fazer espectáculo com a entrega de diplomas ou entregas de cheques, do que amar e respeitar os professores, do que exigir disciplina e trabalho aos estudantes [em vez de promover facilitismos para dourar a estatística].
Meu caro Primeiro-Ministro. Eu concordo, em absoluto, que é preciso restaurar o amor à escola, neste país em que se desvaloriza tanto o saber, o rigor, o trabalho, a disciplina, as qualificações.
Mas não como faz. Não é com espectáculo e propaganda - como a entrega de diplomas aos alunos que concluíram o 12º ano de escolaridade - ou palavras doces (vãs) que se vai restaurar esse amor pela escola. No caso do governo, é pelas políticas e acções substantivas que põe em prática. A retórica de nada serve.
O enfoque no mérito desta forma é salazarento e contrário ao ideário socialista, tendo em conta o partido que suporta o seu governo. A esquerda sempre foi meritocrática, saliente-se. Não pode é, na escola, excluir e olvidar quem trabalha e se esforça, mesmo que não consiga a melhor nota.
O mérito assim determinado, apenas pela nota final do estudante, privilegia as classes sociais mais altas, com um nível socio-cultural e económico que dá vantagem aos seus filhos na escola, podem custear explicações e outras condições, e esquece todos aqueles estudantes que partiram de trás, sem tais condições, mas que tiveram grande mérito em terem passado, por exemplo, de níveis negativos para níveis positivos durante o ano lectivo.
Os estudantes percebem que há uma discriminação. Percebem que os premiados pertencem a determinados extractos sociais e famílias. São raros os que conseguem furar os factores de selectividade. E quando furam, apesar da classe social menos favorecida, têm, certamentre, uma família com valores de esforço, trabalho, disciplina e rigor, base do sucesso na escola ou na vida.
Eu acredito na auto-determinação individual, capaz de vencer barreiras de origem, sejam de natureza cultural, social ou económica. Mas isso exige uma disciplina e uma atitude perante o trabalho intelectual (escolar) que não vejo na sociedade portuguesa ou nas escolas.
«O mérito e o sucesso devem ser distinguidos», concordo consigo, caro Primeiro-Ministro. Mas, há que proporcionar mais hipóteses para os que chegam à escola atrás dos demais. Que partem muito atrás dos outros, por razões culturais, sociais e económicas, com grande responsabilidade das famílias em muitos desses aspectos. Ser pobre não é razão para desvalorizar o conhecimento, a escola, a disciplina e o trabalho.
Aí é boa a medida de V. Excia quanto à melhoria da acção social escolar, sem dúvida. Mas é preciso ir além da distribuição de computadores, diplomas e cheques.
Esta maneira de premiar um certo tipo de mérito contraria a menor exigência de trabalho e de disciplina preconizado pelo novo estatuto do aluno, que introduz facilitismo para, por sua vez, fabricar resultados estatísticos.
Deve promover, sim, a disciplina e o trabalho por parte dos estudantes, em lugar do laxismo (sucesso fictício) e em vez de inundar os professores de burocracia inútil para certificar quem não sabe nem quer saber, apesar das oportunidades.
Há aspectos que o governo não controla, mas deve fazer mais. Deve deixar de maldizer os professores e de os decredibilizar ou desvalorizar. Para que haja mais amor à escola por parte da sociedade é preciso mais amor e respeito pelos professores, muito maltratados por este executivo.
Comunico-lhe que não terá o meu voto, mesmo que alterasse a sua atitude perante estes profissionais antes das próximas eleições.
Como pensa que se consegue a confiança nos professores, que hoje defendeu, com tanta desconfiança e desamor por parte de V. Excia e a sua equipa do Ministério da Educação?
Shame on you, dear Prime-Minister.
Importante recordar:
Melhores resultados escolares? Então toca a tratar e a compensar melhor os professores
Discurso da treta, o costume
«Apostar a sério da Educação», para quando?
-Prioridade mas só depois da prioridade do betão I
-Prioridade mas só depois da prioridade do betão II
-Prioridade mas só depois da prioridade do betão III
-Desinvestimento na educação e professores, investimento na burocracia e nos burocratas
-Presidente da República lança aviso ao Governo II (desinvestimento na Educação)
-Presidente da República lança aviso ao Governo I
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