O facilitismo e o laxismo educativos tomaram proporções tais que é uma vergonha nacional. O PS de Sócrates faz parte, na Educação, de uma certa esquerda laxista, que aqui temos denunciado, e dedicou-se às estatísticas para iludir os portugueses. Só uma cultura desresponsabilizante e desvalorizadora da escola e do conhecimento podem pactuar com este estado de coisas.
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O primeiro-ministro José Sócrates, segundo o Público, quando pintava de rosa a realidade educativa do país, referiu ser acusado de facilistismo. José Manuel Fernandes, director do referido jornal, no dia 25 de Agosto, procurou deitar luz sobre as zonas escuras que o governo não pretende manter:
«O primeiro problema colocado pelas estatísticas ontem divulgadas pelo Ministério da Educação é que estas fornecem pouca informação. Mais: todos os esforços do PÚBLICO para completar essa informação chocaram com a habitual relutância da administração pública em fornecer as bases de dados e não apenas os números trabalhados "à sua maneira". É um escândalo numa democracia, tornou-se uma rotina com este Governo que trata toda a informação estatística como se de um segredo de Estado se tratasse.» [E fá-lo por alguma razão.]
«Mesmo assim a informação que essas estatísticas fornecem permite verificar que o "grande salto" foi dado apenas nos dois últimos anos lectivos. Porquê? Uma das explicações ontem adiantadas por professores que conhecem bem as escolas é que o novo Estatuto do Aluno [leia este «Balbúrdia na escola»], que foi muito criticado por promover o laxismo e diminuir a autoridade dos professores, automaticamente impede as chamadas "retenções" - a que os mais velhos ainda chamam chumbos... - por faltas.» [A mão dura foi apenas para os professores, para justificar cortes nos salários e nas carreiras, como se o sucesso educativo dependesse só dos docentes. Como se outros actores nada tivessem a ver com os resultados escolares. Como se o trabalho e o esforço dos meninos não fosse necessário...]
«Por outro lado, são inúmeros os exemplos, alguns dos quais chegaram a ser debatidos nestas páginas, da pressão que existe para evitar que os alunos tenham de repetir um ano lectivo, mesmo que, manifestamente, não tenham adquirido as competências, o saber correspondente. Obrigar um aluno a repetir o ano é algo que o "eduquês" condena com veemência, condenação que se tornou doutrina oficial do actual ministério.»
«Este quadro torna difícil acreditar nos cenários dourados que apontam para mecanismos como as aulas de recuperação ou uma melhor formação de professores como factores do aparente sucesso: mais depressa se olha para a escola e se encontram casos de exames mais fáceis e de conselhos de turma onde os docentes discutem qual deles vai perdoar a negativa a um aluno para não ficar... "retido".» [Eu estou no terreno e isto é pura verdade. Andamos a criar um mundo de faz de conta na escola pública, para mal dela.]
«Em síntese: se uma orientação correcta - a abertura de mais vias no ensino profissional - explica uma parte dos sucessos, há orientações e práticas erradas que permitem que as taxas de insucesso baixem não porque as escolas estão a produzir alunos melhor formados, antes porque se acomodaram a menores níveis de exigência. Estes afectam depois a qualidade do ensino superior, como muitos docentes que dão aulas aos primeiros anos verificam ano após ano.» [Outra realidade clara, que os professores bem conhecem. Cada vez se exige menos trabalho, responsabilidade e disciplina ao aluno, que resulta na bandalheira instalada. Os alunos passam a saber as matérias pela rama. Esta é a realidade que a propaganda procura camuflar.]
«Uma última nota, porventura ridícula para quem está no sistema, mas chocante para quem toma à letra as palavras dos governantes e, depois, se confronta com a letra da lei, lei neste caso anterior ao actual Governo: os nossos nove anos de escolaridade obrigatória não correspondem à obrigatoriedade de completar o 9º ano, apenas à obrigatoriedade de frequentar a escola (mesmo que não aprendendo nada) até aos 15 anos, altura a partir da qual a lei portuguesa permite que se trabalhe sem cair na moldura penal do trabalho infantil. Confessando ao mesmo tempo a ignorância sobre este "detalhe" mas assumindo a revolta por esta pantomina, é caso para dizer que nunca deixaremos de ser um país de opereta. E opereta fanhosa.»
Este governo não poderia ter falhado na Educação. Precisamente na Educação. Mantemos ainda elevadas percentagens de trabalhadores não qualificados («em 2007, os trabalhadores portugueses mantinham uma estrutura de qualificações muito semelhante à verificada duas décadas atrás»: 31%), mas este governo parece apostado em aumentar as qualificações com falsos qualificados para compor a estatística. Não sei o que é mais trágico... Quando se varre para debaixo do tapete o problema ele "deixa" de existir e não se tomam medidas para o resolver...
Mais "serviço" de desmontagem da ilusão para votante ver:
AQUI
Recorde-se:
51: falar verdade
50: vida ilusória na escola versus dura realidade
49: novo paradigma de escola
47: «A balbúrdia na escola»
46: Afinal, ministra da Educação desresponsabiliza estudantes
42: Vida fácil na escola e regras de vida para o estudantes
41: «Zona de esforço não negociável»
40: Responsabilizar outros actores e não só os docentes
39: Professor bode expiatório
31: Responsabilizar os estudantes pelo seu desempenho
29: Regras e responsabilização das crianças
27: Responsabilização
24: Laxismo e facilitismo significam exclusão social
23: Leste arrasa postura desculpabilizante
22: valores do Trabalho e da Responsabilidade moribundos na escola
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
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