Como é público, a acção cívica-ambiental-desportiva de madeirenses e da Save the Waves Coalition, para a perservação da costa marítima e de surf spots na Madeira, tem sido ignorada e banida pelas autoridades governativas. Não tem existido aquilo que Al Gore chama de «vontade política», no documentário An Inconvenient Truth.
Nas Canárias, ainda recentemente, a proactividade da Save the Waves Coalition teve uma recepção por parte do governo canarino que é oposta ao que se tem passado na Madeira, até ao momento (como se diz que a estratégia de desenvolvimento vai mudar na Região, há sempre a esperança que certas vertentes ambientais sejam acolhidas nessa mudança estratégica, nem que seja em nome do turismo, base da economia regional: ainda há pouco o surf foi promovido numa montra do turismo da Madeira e faz já parte do Plano de Desenvolvimento da Madeira 2007-2013).
Aquela associação americana conseguiu, junto do Governo de Canárias, o compromisso de preservar os surf spots e dar atenção a outras formas de protecção da costa, por via da implementação de recifes artificiais, nomeadamente para evitar a erosão e perda de areia nas praias, em lugar das clássicas muralhas de betão (veja-se ainda o exemplo de Cascais ou ideias para aplicação na Madeira). Como disse William Henry, «it's the most open-minded reception I have ever experienced from government officials.»
A questão ou causa ambiental liderada pela Save the Waves Coalition tem sido politizada na Região (o que se lamenta), como é quase tudo por aqui (espirrar é um acto político na Madeira), na táctica estratégica de a conotar com uma acção política contra o Governo e a Madeira. E ainda contra os madeirenses, imagine-se. É o que se está a passar relativamente ao filme produzido pela associação americana, Lost Jewel of the Atlantic, colocado em tribunal pelo executivo regional (como podem, nessa lógica, ser outros). A Save the Waves Coalition, através do Lost Jewel of the Atlantic, é acusada de atentar contra o bom nome do executivo regional e a imagem da Madeira. Como é habitual, qualquer verdade ou facto «inconveniente» é elevado à qualidade de "inimigo externo da Madeira". A realidade é dual: ou se é amigo e concorda com tudo o que faz o governo ou então se é declarado inimigo e banido. Há quem diga que por cá se continua a espezinhar a tolerância e o respeito. Por que será que a governação americana não coloca Al Gore em tribunal devido ao An Inconvenient Truth?
Isto apesar de Lost Jewel of the Atlantic constituir uma celebração da Madeira (o director da Save the Waves Coalition disse em Setembro último: «a nossa intenção nunca foi fazer um retrato da Madeira de uma forma negativa; pelo contrário, é um dos meus lugares favoritos no planeta»). Só conjunturalmente e de forma oportunista pode ser lido como ataque político. Até porque o Surf, com já se referiu, já faz parte do Plano de Desenvolvimento da Madeira 2007-2013, embora entre em contradição com outras resoluções: continuar a exemplo do que se fez no Jardim do Mar. Será que é o filme que prejudica a imagem da Madeira e o turismo ou são determinadas intervenções na costa?
Recorde-se que desde o início se desenvolveu a proactividade, só que ela nunca foi acolhida aqui como foi agora acolhida em Canárias, no exemplo acima referido. Aqui promoveu-se a estratégia da batalha campal (antes, durante e depois) para que, no meio do ruído, os argumentos não se ouvissem. No caso emblemático do Jardim do Mar, na sessão de esclarecimento público organizada (mas sabotada pelos famosos eventos anti-democráticos) em 9 de Novembro de 2002, os ambientalistas, entre eles William Henry, tinham um plano alternativo, desenhado por um arquitecto, para a muralha/promenade do Jardim do Mar, que implicava reduzir o tamanho da construção proposta pelo Governo. Se não se tivesse amordaçado a liberdade de expressão e a cidadania, teria sido construída a "promenade" (e paredão) sem terem sido enterrados quase 800 metros de praia de calhau, sem agredir a paisagem e as características únicas do nosso patrimínio natural, sem impossibilitar a apanha das lapas e condicionar o acesso ao mar, sem comprometer as condições únicas da famosa onda do surf, tudo importante para a economia local. Todos os ganhos teriam sido alcançados sem as perdas que a obra implementada tem gerado. Ao menos se se tivesse ouvido as pessoas...
Até hoje não se percebeu por que razão se impediu um conjunto de cidadãos de informar, apresentar as suas ideias, ouvir as ideias dos outros e apresentar o plano de construção alternativo (vemos esse documento em papel enrolado nas mãos de um ambientalista - minuto 1 e 43 segundos nas imagens - quando uns populares instrumentalizados para o "efeito batalha campal" tentavam virar a mesa) naquele 9 de Novembro de 2002.
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