É preciso penalizar e responsabilizar tanto quem provoca a violência como quem a desculpabiliza e branqueia. Tanto uns como outros, bullies e quem lhes dá "carta branca", não podem continuar impunes
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Têm surgido, em vários quadrantes, o discurso do "sempre existiu" para legitimar a violência (bullying) em espaço escolar. Aceitar e relativizar para negar a realidade é abandonar as vítimas à sua sorte.
A discriminação da mulher, por exemplo, sempre houve, mas isso não é argumento para legitimar essa discriminação nem para que ela continue a ser aceite como normal, como se de uma boa tradição se tratasse. O mesmo se aplica ao bullying.
«Efectivamente, ao nível das comunidades escolares, sempre houve os empurrões, sempre houve as pequenas agressões, todos nós passámos por isso e sobrevivemos e penso que todos sobreviverão a esse tipo de situações», afirmou à RTP Madeira, em 16.3.2010, o secretário regional de Educação e Cultura.
A relativização e aceitação da violência em espaço escolar é, antes de mais um sinal de desautorização a todos os que procuram, nas escolas, lutar contra a violência continuada dos bullies sobre as vítimas. É, por outro lado, um sinal de incentivo para os agressores e para a impunidade de que gozam tantas vezes.
Ainda bem que PGR quer reforçar criminalização da violência escolar. «A nossa sociedade não pode continuar a ver o aluno como uma criatura intocável, irresponsabilizável e inimputável» [LER MAIS].
Interessa apenas sobreviver? Se as vítimas da violência não acabarem como o Leandro de Mirandela significa que está tudo bem? As feridas e marcas psicológicas que ficam para a vida nas vítimas não têm importância? A violência mais grave e demolidora muitas vezes nem é a física («empurrões»). É a psicológica.
As sociedades vão evoluindo. A civilização tem evoluído. O facto de um comportamento ter sempre existido não o legitima nem serve de argumento para que continue. É uma questão de tradição? Isto é negar o conceito de Educação, aquilo que nos permite estarmos num estádio superior ao dos animais irracionais.
Uma escola que aceita a indisciplina e a violência como normal está doente. Tal minimização da violência constitui a negação da realidade, bem como do valor da Educação, numa gestão do problema que é tudo menos educativa.
A mesma notícia da RTP Madeira referia que, «nos últimos dez anos a Secretaria Regional de Educação e Cultura lidou apenas com dois casos de bullying, ou seja, violência em meio escolar». Supostamente dois casos que ficaram por resolver [esconder?] nas escolas e acabaram por chegar à Secretaria Regional de Educação e Cultura.
Faço três apelos, para que a realidade integre as (ilusões) estatísticas e o bullying não passe incógnito:
Que todos os alunos ou encarregados de educação cujos filhos sejam vítimas de bullying façam chegar à Secretaria Regional de Educação e Cultura esses casos de violência escolar.
Que todos os professores denunciem à Secretaria Regional de Educação e Cultura os casos de violência escolar de que os seus alunos ou eles próprios sejam vítimas.
Que os professores se unam na luta por condições de trabalho, para si e para os estudantes que querem aprender, sem indisciplina generalizada e violência.
A ocultação da realidade serve aos agressores, desresponsabiliza quem tem o dever de agir e penaliza as vítimas.
É preciso penalizar e responsabilizar tanto quem provoca a violência como quem a desculpabiliza e branqueia. Tanto uns como outros não podem continuar impunes.
A propósito:
PGR quer reforçar criminalização da violência escolar
60: Violência camuflada XII
59: Violência camuflada XI
58: Violência camuflada X
57: Violência camuflada IX
56: Violência camuflada VIII
55: Violência camuflada VII
53: Violência camuflada V
15: Violência (des)camuflada IV
13: violência camuflada III
12: violência camuflada II
7: violência camuflada I
38: Bandalheira instalada na pública favorece a privada
30: Onde falhamos nós no público
29: Regras e responsabilização das crianças
27: Responsabilização
23: Leste arrasa postura desculpabilizante
Outros:
10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
Laxismo pós 25 de Abril trama Educação
Brincamos mesmo
País de brincalhões
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo nem vem de cima]
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