«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, outubro 31, 2008

Para esta noite fria e chuvosa


Ouvir mais Bohren & der Club of Gore ali mesmo na barra lateral.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Video Wassup de apoio a Obama


O realizador de videoclips e publicidade, Charlie Stone, entrou na lista de apoiantes do candidato democrata Barack Obama.

Stone deu início a uma das campanhas mais brilhantes e mais premiadas da história da publicidade. Tratou-se da série de anúncios denominada Wassup, para a marca de cerveja Budweiser, que, originalmente retratavam divertidas cenas de camaradagem entre amigos, até surgirem outras versões disponíveis no YouTube.

O realizador apresentou o Wassup 2008, que mostra a vida daquele mesmo grupo de amigos, oito anos e dois mandatos de George W. Bush depois. No final, a mensagem é a de que, apesar do desespero, há uma esperança: a mudança protagonizada por Barack Obama.

Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses

Será que a política de festas, futebóis e diversão generalizada constitui estímulo para mudar a mentalidade e a atitude perante o trabalho escolar por parte da sociedade madeirense?

Marco Gomes, director da Escola da APEL, escola privada madeirense, que durante cinco anos foi director pedagógico do Colégio Manuel Bernardes em Lisboa refere no Diário de hoje:

«Não tenho dúvidas de que os alunos madeirenses são diferentes dos de Lisboa», onde a «competição, o esforço e o tempo dedicado aos estudos era muito maior». Acrescenta que não é fácil motivar quem chega desinteressado, «quem não está disposto ao sacrifício e a estudar».

A realidade é que 32 anos após o 25 de Abril de 1974 «continuamos a ter escolas da Madeira entre as piores, depois do investimento em infra-estruturas» e com um «quadro docente habilitado. É tempo de ver onde estão as nossas falhas».

Quem trabalha nas escolas sabe que a atitude perante o estudo, isto é, face ao trabalho intelectual, tem piorado na última década.

As melhores instalações das escolas e a habilitação dos docentes não resolveu o insucesso escolar. Prova que as condições (ambiente) de trabalho na sala de aula são mais determinantes do que as condições físicas dos estabelecimentos de ensino.

De que serve ter melhores edifícios e melhores professores se as famílias não valorizam o conhecimento e a escola? Se os estudantes têm uma atitude negativa perante o trabalho intelectual? Se grassa a indisciplina (camuflada) nas salas de aulas, como se tudo fosse normal, criando um enorme ruído e obstáculos ao processo de ensino-aprendizagem?

Quem aprende Matemática, por exemplo, sem se concentrar, sem se esforçar, sem estudar? Qual é a pedagogia, qual é o professor e quais são as condições físicas dos edifícios que fazem o estudante aprender sem trabalhar?

Estamos à espera de um milagre? Ter resultados sem que exigir trabalho, estudo e disciplina aos estudantes? Sem reponsabilizar as famílias?

Seria bom fazer um estudo sociológico para confirmar, cientificamente, aquilo que já se tem defendido por aqui.

Contudo, não aceito responsabilizar esse caldo socio-cultural por todos os males da Madeira, neste caso os maus resultados escolares no contexto nacional. Por outras palavras, os obstáculos socio-culturais de partida não podem ser usados como álibi para a ausência de esforço ou empenho do estudante no trabalho escolar de aprendizagem.

Recuso justificar a inacção e a irresponsabilidade individuais, transferindo as culpas apenas ou basicamente para a esfera social. Estou cansado da cantiga do costume de culpar a sociedade (e o sistema) por tudo o que de mal acontece aos indivíduos. O contexto social tem o seu peso, mas o indivíduo tem uma palavra a dizer e um papel a desempenhar no superar desses obsctáculos.

Feita esta ressalva, sabemos, como já aqui se tem dito, da realidade das baixas (ou ausência de) qualificações, da insularidade, ruralidade, chagas sociais como o alcoolismo, a violência doméstica ou bolsas de pobreza e analfabetismo (o clássico e o funcional), os poucos estímulos para a disciplina, treino, rigor e amadurecimento do raciocínio (recorde-se A lição de Monteiro Diniz), a escassa cultura de trabalho (empenho), a desvalorização do saber, da escola e da actividade intelectual, a desigualdade de oportunidades, o nivelamento por baixo, a não valorização de nada além do horizonte futebol-bar-sobrevivência, o não privilegiar nem reconhecer da competência, o domínio do tráfico de influências em lugar do mérito no acesso ao emprego e à mobilidade social, entre outros. Factores que têm o seu peso no insucesso escolar numa sociedade como a madeirense, em particular, ou a sociedade portuguesa, no seu todo.

O ambiente na Região é pouco competitivo. As oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido.

Mais em:
-Insucesso escolar vem de longe 3
-Insucesso escolar vem de longe 2
-Insucesso escolar vem de longe 1

A propósito:
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 16: condições de trabalho
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 1: condições de trabalho
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 2: a mais grave discriminação
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 3: primeira responsabilidade
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 4: manobra para a estatística I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 5: manobra para a estatística II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 6: manobra para a estatística III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 7: violência camuflada I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 8: manobra para a estatística IV
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 11: racionalidade e realismo precisam-se
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 14: diploma universitário à nascença resolvia problemas da Educação
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 15: Violência (des)camuflada IV

Ainda:
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo não vem de cima]

Realidade escolar madeirense
«Apostar a sério da Educação», para quando?

A lição de Monteiro Diniz

quarta-feira, outubro 29, 2008

Diploma automático à nascença

«A repetição não é um meio pedagógico adequado», como diz o Conselho Nacional da Educação, mas é o mais fácil e mais barato. A sociedade portuguesa está disposta a custear outras soluções pedagógicas, em alternativa à repetição? Não está.
photo copyright

Já estivemos mais longe da entrega de um diploma universitário à nascença, para evitar a maçada de estudar, esforçar-se, ser disciplinado ou então para resolver a vergonha dos níveis de insucesso escolar, apesar dos esforços para o disfarçar estatisticamente do Ministério da Educação.

Por via do 4R, fiquei a saber que o Conselho Nacional da Educação advoga a passagem de ano escolar obrigatória até aos doze anos, porque o «problema das repetições assume, em Portugal, proporções catastróficas para os alunos e para o sistema.»

Podemos ainda ler no parecer daquele conselho, Educação das crianças dos 0 aos 12, que, nalguns países, «as repetições foram substituídas por estratégias de apoio aos alunos, intervenção aos primeiros sinais de dificuldade, estratégias de diferenciação pedagógica que permitem dar respostas a necessidades de aprendizagem de alunos com sucesso e de alunos que manifestam problemas na aprendizagem.»

Este combate à selectividade social na escola dificilmente será entendido por uma sociedade selectiva. Por mais que expliquem os nobres e utópicos objectivos da solução, jamais descolará da etiqueta de facilitismo e da consequente degradação dos conhecimentos e competências a adquirir na escola.

O Conselho Nacional da Educação está com certeza bem intencionado, mas pode estar equivocado. É preciso terra muito fértil para receber tal semente. Portugal não é a Finlândia.

Quanto ao Ministério da Educação, interessado em dar boas e rápidas estatísticas ao Governo da República, suspeito muito das suas intenções. A baixa politiquice eleitoralista não olha a meios.

Para tal medida avançar, seria preciso garantir condições de acompanhamento a tal ponto que fosse capaz de evitar que os estudantes escorregassem para o insucesso escolar.

Contudo, não há meios para isso. O orçamento para a Educação teria de ser outro. Nem a sociedade portuguesa nem o Ministério da Educação estão dispostos a esse esforço e a essa prioridade nacional. Nem tão pouco o contexto sociocultural de Portugal é o mesmo de outros países europeus, onde determinadas soluções poderão funcionar.

Assim, na prática, a estratégia anunciada equivalerá a passar sem saber. A realidade será esta. Nesse caso, o Ministério da Educação que dispense os estudantes de irem à escola. Já o fez quando da aprovação do novo Estatuto do Aluno. Faz um exame no final e está feito.

Mas a estratégia é malvada: passou sem saber? Então a culpa é do professor, está claro, mesmo que muitos dos problemas o ultrapassem, o que entronca com o novo sistema de avaliação... São dois coelhos de uma cajadada: melhora-se as estatísticas na secretaria e pode-se sempre, culpando os professores, evitar que progridam na carreira (cortar no orçamento com pessoal).

E não gosto que se atribuam as culpas do insucesso escolar sempre à «ineficácia do sistema» (parecer citado, página 8). As famílias e os estudantes não têm nenhum papel no seu trabalho escolar, na sua disciplina e atitude? Não têm responsabilidade na não aprendizagem? São meros joguetes ou vítimas do sistema? É tudo culpa dessa entidade chamada sociedade? Uma coisa é ter dificuldade, outra coisa é não querer aprender e não deixar os outros aprenderem nas turmas.

Sabemos que os alunos com um estatuto socio-económico fraco têm mais probabilidades de ter insucesso escolar. Mas, é ilusório que a escola possa mudar a estrutura da sociedade e acabar com as desigualdades prévias. Pode e deve fazer o que lhe compete, mas não faz milagres. É uma ilusão a criação de um estudante novo, tal como o comunismo, crente na bondade humana, pensou que criaria uma sociedade nova, um Homem novo.

Os estudantes não estudam apenas por ser poético e dar prazer. Não é espontâneo. É preciso esforço, trabalho, disciplina. Ora, o Conselho Nacional da Educação parece não conhecer a natureza humana. Pensa que o ser humano está naturalmente vocacionado para a cultura escolar, com alegria e prazer, sem a sua vontade ser educada, sem ser disciplinado, sem criar hábitos de trabalho.

Como pensam que os estudantes e as famílias reais, com a cultura cívica e a literacia portuguesas, vão receber os sinais desta medida? Não é preciso estudar. O ser humano busca, naturalmente, a economia do esforço e o prazer.

«A repetição não é um meio pedagógico adequado», como diz ainda o Conselho Nacional da Educação, mas é o mais fácil e mais barato. Quem está disposto a custear outras soluções pedagógicas, em alternativa à repetição? Os economicistas e neoliberais apologistas da selectividade pura e dura? Se for apenas para acabar com a repetição para fins meramente estatísticos, mais vale nem falar mais no assunto. Ou se faz a sério ou então mais vale deixar como está.

Além disso, numa sociedade em que se desvaloriza a escola, o conhecimento, a cultura, como vamos implementar nas escolas a atitude positiva e empenhada dos alunos perante o trabalho intelectual? Como vamos garantir as condições de disciplina e trabalho nas salas de aula? Porque acabar com as retenções nunca poderá significar avançar sem saber. Se assim acontecesse, seria um dupla exclusão dos estudantes.

José Saraiva, o historiador e professor universitário, falecido em 1993, como deu conta Maria Lúcia Lepecki (revista Super Interessante, nº116-Dezembro de 2007), «ponderando os, naquela altura, já visíveis e preocupantes sintomas do que hoje chamamos "facilitês" em todos os níveis de ensino, propunha, com a sua típica (e frequentes vezes sarcástica) ironia, um santo remédio para acabar de vez com todas as preocupações relativas a escolas, professores, auxiliares de ensino e sobretudo estudantes, quaisquer que esses fossem, onde quer que estivessem.»

«A solução era simples, eficaz e certamente barata: assim que uma criança recém-nascida fosse registada, o responsável pelo registo agarrava a cédula pessoal, hoje chamada "boletim de nascimento", e tomava, célere, o rumo da sua Junta de Freguesia, onde, em formulário apropriado, requeria um diploma universitário, a seu critério, para o bébé cuja chegada ao mundo se documentava e a quem, entretanto e em casa, alguém trocava fraldas.»

«Do que recordo, mas Saraiva talvez o tenha apenas implicitado, era automático o deferimento do pedido, seguindo-se, de imediato, a emissão do documento. A partir desse momento, uma lisa estrada se oferecia ao infante e a toda a família. Era o definitivo, libertador, adeus a maçadas com escolas, aulas, trabalhos para casa e actividades extra-curriculares» entre outros aspectos como as faltas às aulas...

Ora, o 4R, pela mão de Pinho Cardão, optou por um comentário sarcástico, a lembrar aquele de José Saraiva: «a passagem de ano devia ser obrigatória até ao bacharelato de Bolonha. Isto como medida transitória, até que o mesmo douto Conselho Nacional elabore os estudos que permitam a cada nascituro levantar automaticamente o diploma de Doutor na Loja do Cidadão. Simplex, um país de doutores e sucesso escolar garantido a 100%.»

Apesar de não ter perdido a esperança, nesta fase também estou mais inclinado para o sarcasmo.

Recorde-se:
Elementos sobre o estado da Escola Pública 14: diploma universitário à nascença resolvia problemas da Educação

Outros links a partir daqui:
Elementos sobre o estado da Escola Pública 16: debandada

Notícia:
RTP
SIC 1
SIC 2 : Nuno Crato

Ai o nosso dinheirinho

Faço minhas as palavras do Ultraperiferias:

«Porventura não acham exagero o que se anda a fazer na Madeira em matéria de Estádios? Até que ponto rivalidades idiotas são relegadas para planos primários na espiral de um processo de decisão, e nos aventuramos para compromissos que, podendo servir o "ego" de dirigentes ou a clubite de algumas colectividades, não escondem outra realidade bem mais complicada: o que vai acontecer às equipas madeirenses, se um dia a política de apoio ao futebol profissional for alterada? É que nunca vi até hoje ninguém demonstrar que, se isso acontecer, temos condições para continuar na I Liga e que os clubes têm condições de sobreviverem...»

Recorde-se:
Esbanjamento

Realidade escolar

Os rankings de escolas, apesar de não terem em conta determinadas variáveis socio-culturais e económicas, o tal contexto que condiciona e determina muito os resultados dos estudantes, facultam uma visão global do sistema e das diferentes regiões do país.

Segundo os dados do Ranking das escolas SIC 2008, com um total de 496 estabelecimentos de ensino, a primeira escola da Madeira, a Escola Secundária Jaime Moniz, surge no 156º lugar enquanto a primeira escola do Açores surge no 120º lugar.

A próxima escola da Madeira a surgir no ranking, a APEL, posiciona-se no 245º lugar. A terceira escola madeirense, a Escola Francisco Franco, aparece no 291º lugar.

A Escola Básica e Secundária de Machico surge em 423º. A Escola Básica e Secundária Bispo D.Manuel Ferreira Cabral (Santana) em 429º. A Escola Secundária Dr. Ângelo Augusto da Silva em 437º. A Escola Básica e Secundária da Calheta em 438º. A Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares (Ribeira Brava) em 457º. A Escola EB23 do Carmo (Câmara de Lobos) em 479º. A Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco (Funchal) em 484º e, finalmente, a Escola Básica e Secundária da Ponta do Sol em 487º, num total de 496 escolas portuguesas.

No ranking da Matemática, num total de 556 estabelecimento de ensino, a primeira escola madeirense, Escola Secundária Jaime Moniz, surge no lugar 76º e a primeira açoriana no 63º. A próxima escola da RAM, a Escola da APEL, aparece apenas no 269º lugar. A Escola Francisco Franco em 472º. A escola Básica e Secundária da Calheta em 519º e, por fim, a Escola Básica e Secundária da Ponta do Sol em 551º. Após a última escola açoriana, lugar 491º, surgem mais cinco escolas madeirenses.

Quanto ao ranking de Português A, surge a Escola Básica e Secundária de Santa Cruz no 11º lugar, num total de 583 escolas. A primeira escola dos Açores surge em 141º lugar.

A última escola madeirense neste ranking é a Escola Básica e Secundária da Calheta, no lugar 578º, seguida de mais quatro escolas dos Açores, que fecham a tabela, com um total de 583 estabelecimentos de ensino.

Recorde-se:
Ranking das escolas secundárias 2006 e 2001 a 2006
Ranking de escolas e regiões (Madeira e Açores)

Contexto:
A lição de Monteiro Diniz
Insucesso escolar vem de longe 3
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 1
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo não vem de cima]
Elementos sobre o estado da Escola Pública 16: debandada

Pergunta:
«Apostar a sério da Educação», para quando?

Vampiros

Crise? Qual crise, com a banca a ganhar 3,3 milhões por dia? Parece que muitas empresas estão a usá-la como pretexto ou instrumento de despedimento. Aproveitam estas alturas de supostas "inevitabilidades" para pôr uns muitos no desemprego e precarizar/explorar ainda mais os trabalhadores.

A banca, na origem da crise financeira, continua como se nada fosse. Os seus gestores-especuladores vão para casa com ordenados ou indemnizações chorudas, com os governos a terem de segurar as pontas.

A crise é uma oportunidade para esta gente. Chupam o sangue de quem tem menos, tornando ainda mais desigual a distribuição da riqueza.

Como explica a notícia, a «crise financeira internacional não impediu a Banca portuguesa de conseguir 914 milhões de euros em lucros, o que dá uma média de 3,3 milhões de euros por dia até Setembro. Os principais grupos financeiros já apresentaram os resultados do terceiro trimestre de 2008 (o Banco Espírito Santo apresenta hoje os seus números) e o negócio da concessão de crédito, da captação de depósitos e da cobrança de comissões continua a crescer.»

Mais em Correio da Manhã.

Sempre actual:
Vampiros

terça-feira, outubro 28, 2008

Mais autonomia, desde que reverta para o Povo Madeirense

Presidente do PSD-Madeira, no segundo número do Madeira Livre: «pergunto ao Povo Madeirense, se não devem ser competências da Assembleia Legislativa da Região Autónoma, legislar nas seguintes matérias», em que se incluem as «bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio ecológico e do património cultural» ou as «bases do ordenamento do território e do urbanismo», para dar dois exemplos.

Pergunta um cidadão desse Povo Madeirense: se em determinadas matérias, em que a Madeira tem poderes para legislar/decidir e não o faz (Regiões usam pouco a Autonomia, Usar os poderes da Autonomia já consagrados antes de pedir mais ou É pouco autonómico), indo mesmo contra as legítimas aspirações dos madeirenses, para que serve mais poderes na prática?

Damos um exemplo da recusa em legislar/decidir contrariando as aspirações dos madeirenses: A Assembleia Legislativa da Madeira, através da maioria social-democrata, votou contra o projecto de decreto legislativo regional para contagem do tempo de serviço congelado entre 30.8.05 e 31.12.2007 aos professores.

Outras propostas legislativas que têm merecido o chumbo na ALM: aumento subsídio de insularidade para pelos menos 5%. Um complemento para o salário mínimo. Um complemento para a pensão dos idosos.

A Autonomia não é estática, tem de evoluir, mas se mais competências servir apenas para a politiquice, de que foi exemplo o referido tratamento aos docentes, e contrariar as aspirações dos madeirenses, o que beneficia este Povo?

Teremos viagens baratas para Lisboa? Teremos maior coesão social? Teremos mais e melhor cultura? Mudar-se-á a mentalidade endémica madeirense? Teremos mais autonomia cívica? Teremos Democracia que não seja limitada pelo "quero, posso e mando"? Teremos mais respeito pelas minorias? Teremos produtos mais baratos no supermercado? Teremos combustíveis mais baratos? Teremos habitação mais barata? Teremos um rendimento familiar ao nível dos Açores ou da média nacional? Teremos um subsídio de insularidade de pelos menos 5%? Um complemento para o salário mínimo e para a pensão dos idosos? Teremos mais literacia, mais qualificações, menos analfabetismo? Teremos menos festas, menos futebóis? Teremos menos pobres e menor vulnerabilidade à pobreza? Teremos melhores resultados escolares? Teremos melhor poder de compra? Teremos menos atentados ambientais, menos praias artificiais para turismo de baixo-perfil-qualidade? Enfim, teremos mais e melhor futuro e, sobretudo, mais Madeira Livre?

A uma Madeira Livre, isto é, com mais competências, corresponderá a um Cidadão Livre ou a um Consumidor Livre, entre outros conceitos libertários? Reverterá, em concreto (sobretudo para uma transformação mental e cultural), para o Povo Madeirense?

Liberalização aérea 8: interesses do turismo têm secundarizado interesses dos madeirenses

Photo copyright

A EasyJet iniciou ontem os voos regulares entre a Madeira e Lisboa. Façamos votos para que venha a revolucionar, de facto, os preços das viagens aéreas, no sentido de as tornar substancial e consistentemente mais baratas para os turistas e, sobretudo, para os residentes, por muitos anos.

Entretanto, continuo a ouvir pessoas (reais, não estatísticas e médias, nas quais insistem os governos nacional e regional) a queixar-se de pagar cerca de 500 euros por uma viagem a Lisboa ou 300 euros por apenas um percurso (ida ou vinda).

Paulo Campos, secretário de Estado Adjunto, das Obras Públicas e das Comunicações, referiu ao Diário de ontem que a liberação teve como objectivos «tornar a Região mais competitiva nos mercados turísticos, mas também assegurar maior coesão social e territorial.» «Também». Quer dizer que não foi este («os madeirenses e continentais possam estar mais próximos») o objectivo prioritário dos governos nacional e regional?

Sobretudo o Governo Regional, não deveria ter colocado essa «coesão territorial e social», isto é, o interesse dos madeirenses, à frente dos interesses do Turismo? Será que a Liberalização aérea foi histórica, em primeiro lugar e sobretudo, para o turismo? O turismo foi colocado à frente dos interesses dos madeirenses, condenados a carregar a canga do seu aprisionamento insular?

«Num passado mais recente as condições de flexibilidade de marcação [das viagens] eram melhores, mas se houver planeamento...», reconhece Paulo Campos. Esquece-se, no entanto, como as entidades regionais, que há madeirenses, entre eles estudantes, que não conseguem, por vicissitudes da sua vida e compromissos quotidianos, profissionais, por exemplo, fazer esse planeamento como consegue o turista, com maior disponibilidade para viajar num dia ou noutro, nesta ou naquela hora, precisamente por estar de férias.

O interesse dos madeirenses poderia ter sido, desde o início, melhor acautelado. Como foram as autoridades regionais alertadas pelo relatório de um Grupo de Trabalho:

«Assim, porque a liberalização sem condições contratuais das ligações aéreas pode não significar mais voos, menor preço e maior capacidade, até porque eliminando-se a obrigação da frequência e a obrigação de continuidade dos serviços, seria natural que os operadores procurassem adequar a oferta em função da procura, o que poderia fazer flutuar de forma significativa a oferta em relação ao modelo actual, o Grupo de Trabalho de forma unânime entende que a Região não deverá correr estes riscos, razão pela qual a liberalização com condições contratuais é aquela que neste momento melhor salvaguarda os interesses da Região

«Mantemos a ideia de que o mercado funcionando [havendo concorrência] tem condições para melhorar a qualidade e adequar os preços», refere ainda Paulo Campos.

A ver vamos se o mercado desta ilha isolada no Atlântico funciona e é mais apetecível do que se pensa... A ver vamos se entram outras companhias aéreas. Eu não contaria muito com isso... Veja-se o que tem acontecido com o mercado dos combustíveis em Portugal...

Veremos, no fim, quem terá razão. Oxalá a liberalização, para os madeirenses, não fique aquém do desejado...

Recorde-se:
Liberalização aérea 7: histórico para o turismo
Liberalização aérea 6: voos da EasyJet a partir de 241,99 euros
Liberalização aérea 5: insistência nas médias...
Liberalização aérea 4: Governo Regional considera viagens baratas
Liberalização aérea 3: autonomia, "revolução pacífica e liberalização «espúria»
Liberalização aérea 2: turismo colocado à frente dos interesses dos madeirenses
Liberalização aérea 1: só o tempo o dirá

Madeira a transformar-se numa bizarria como a de Michael Jackson?

«Ficamos aqui, um pouco entalados, sem saber se conseguimos ultrapassar este dilema: construir-destruindo ou construindo-valorizando.»

«[P]assados 25 anos, Michael Jackson foi perdendo aos poucos a sua autenticidade, transformando-se numa coisa exótica e bizarra. Alguns percalços naturais ou acidentes, não justificam a busca de uma identidade tão distinta da original. Aceitar-se-ia se o seu corpo fosse como o de Joseph Merrick, o Homem Elefante. Mas a sua beleza natural não envergonhava ninguém. Por isso a sua imagem se transformou num disparate ambulante.»

«Assim estamos na Madeira. Sabemos que o caminho só pode ser o de valorizar o que já temos de bom e singular, mas há quem insista em transfigurar alguns aspectos mais interessantes desta paisagem. Entretanto ficamos aqui, um pouco entalados, sem saber se conseguimos ultrapassar este dilema: construir-destruindo ou construindo-valorizando. Esperemos que depois de tantas cirurgias, com praias de areia amarela, enrocamentos feitos "com os pés" e construções à vontade do freguês, não se transforme a Madeira numa bizarria como a de Michael Jackson.»

Luis Vilhena
Diário 28.10.2008

Sobre(voando) o Território: website
Sobre(voando) o Território: blogue

segunda-feira, outubro 27, 2008

Quero, posso e mando

A aprovação de regimentos progressivamente apertados, na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM), para limitar o tempo de antena das vozes discordantes, é perpetrada à luz do dia e da Autonomia. Só numa terra de gente anestesiada, dormente e acrítica este tipo de acto passa impune. Onde está a opinião pública?

«À maioria que suporta o governo, só lhes resta condicionar, abafar e impedir que a discussão se faça. Porque uma coisa é ter a força da maioria, outra é ter a força da razão. Em suma, esta revisão do Regimento prova a fragilidade da própria maioria. Não levará muito tempo e o Regimento sofrerá novo golpe.» (Com que então...!)

À falta de argumentos e soluções, a maioria ou escolhe o caminho do ruído, para abafar as razões alheias, ou então a via do silenciamento - onde não é possível impor o ruído -, para ninguém ouvir argumentos dissonantes. Assim, o povo fica perante uma escolha única, um pensamento único, uma única "realidade": a da maioria. Ninguém pode discordar.

Quem não tem, não pode dar.

Se há quem já diga que a «oposição [...] nunca passa dos jornais», o que se pretende é que a oposição parlamentar, neste caso, nem chegue aos jornais.

Contudo, não é só a oposição parlamentar que vê acentuadas as dificuldades para se fazer ouvir: ALM acentua dificuldades à participação autónoma dos cidadãos.

Recorde-se:
Desejos de domínio absoluto
Esmagar & Eliminar
O poder é, "naturalmente", prepotente e expansivo: na sua óptica nunca domina o suficiente
Nem 8 nem 88
Madeira endémica espezinha tolerância e respeito
Claustrofofia democrática 3
Bipolarismo monolítico
ALM acentua dificuldades à participação autónoma dos cidadãos

domingo, outubro 26, 2008

Fim do mundo especulativo

photo copyright

Mário Soares, num artigo intitulado Folhetins da crise (Diário de Notícias de Lisboa 21.10.2008), sublinha o seguinte, batendo outra vez nos offshores:

«Como era possível ser de outro modo, em tempo de globalização desregulada, com os "paraísos fiscais", espalhados pelos lugares mais imprevistos, para que as especulações - e as negociatas - fossem menos conhecidas?»

Além das crises energética, alimentar e ambiental, «a mais grave de todas: crise moral, crise de valores ou melhor: da falta deles, a negação da ética, omitida nos comportamentos, pelo capitalismo especulativo, crise civilizacional, de fim de ciclo, dado o enfraquecimento do Estado, a impunidade da corrupção, a desvalorização do serviço público, numa sociedade individualista, egoísta e consumista, por excelência, em que conta, acima de tudo, o dinheiro - como supremo valor - sem importar como se adquire nem qual a sua origem. Se vem do tráfico ilegal da droga, da prostituição, da compra e venda de armas, incluindo nucleares, do crime organizado ou das especulações feitas através dos offshores, que têm por detrás deles "respeitáveis" senhores que gerem bancos, seguradoras e grandes empresas, auferem vencimentos multimilionários, prémios e indemnizações e são os mais próximos responsáveis - não os únicos - até agora impunes, da grande crise global e complexa com que nos debatemos.»

«Toda a teoria e a prática neoliberais daí decorrentes caíram por terra, desacreditadas, em poucas semanas, pela crise que estamos a viver. É, como diz [o economista Daniel] Cohen, "o fim do mundo especulativo". Os nossos economistas neoliberais deixaram de falar. Quando muito, aconselham prudência, muita cautela. Talvez "caldos de galinha"... Não quiseram - ou não souberam - prever nada. E estão estonteados sem saber como combater a crise que se instala e gera a desconfiança e o pânico...»

Auditorium ambience

They still rock after all these years. Como Motorhead or Slayer, os AC DC repetem a fórmula do seu addictive, minimalist, bone-crunching hard rock, mas nunca falham. O novo Black Ice, embora mais polido, já faz estragos cá por casa.

Elementos sobre o estado da Escola Pública 16: Debandada

photo origin

«É preocupante a amarga debandada de profissionais, válidos e necessários ao sistema, rumo a uma aposentação precoce, zangados, defraudados nas suas expectativas... Que consequências para a qualidade da Escola Pública? É paradigmático o que se está a passar com o novo ECD e a Avaliação do Desempenho Docente (ou deveria antes dizer-se Sistema de Retenção na Carreira?).» (Júlia Caré, Diário 26.10.2008)

O «número de professores que tentam, junto do Sindicato dos Professores da Madeira, estudar a possibilidade de se aposentarem» é caracterizado como «alarmante».

Como regista hoje o Diário, «este ano, já se reformaram quase quatro mil professores e educadores de infância» no país. E não há uma debandada monumental porque simplesmente só uma pequena parte reúne as condições para a reforma antecipada.

O chamado «cansaço extremo» de muitos professores tem razões, que não se limita à «burocatização da escola», à maior carga horária, à proliferação infindável de reuniões inúteis ou à desvalorização da carreira pelos governos nacional e regional.

Parece um assunto tabú para os professores e sindicatos: a indisciplina, que nem é mencionado no artigo do Diário. Não é leccionar - o trabalho intelectual - que cansa e desgasta emocionalmente. É gerir e liderar crianças e jovens cada vez mais indisciplinados, com défice de atenção e concentração, com uma atitude negativa perante o trabalho intelectual, em que só o laxismo da cultura portuguesa, que ainda por cima desvaloriza a escola e o conhecimento, deixa passar como se nada fosse. Como se não fosse causa de insucesso escolar.

Há escolas em que há tanto alvoroço, gritos e assobios, tanto nos recreios como nos corredores dos edifícios de aulas, que é próprio de uma «casa de loucos» e não de uma escola. É este ambiente propício ao estudo e à aprendizagem?

A indisciplina está por resolver também nas escolas da Madeira. Um governo de direita tem uma política de esquerda, que tanto critica. Só quer ser de direita no capítulo da Gestão e Administração das escolas..., precisamente onde não deveria ser.

Não bastará dizer que o sistema educativo português é laxista/facilitista e que a «educação que é um dos três sectores em Portugal onde o Partido Comunista tem mais presença», como se lê hoje também no Diário. Pelos vistos a Madeira não difere.

Depois quer-se que a pedagogia e o professor façam aprender e ter sucesso escolar, como por milagre, quem não trabalha, não estuda, não se esforça e não tem uma atitude positiva perante a aprendizagem.

E, no final, o docente é avaliado pelos resultados dos estudantes, quando há tantas variantes que não controla... O docente nem autoridade tem hoje para educar a vontade (não me venham com pacotes como a «motivação») dos estudantes que decidem passar as aulas sem abrir os livros ou fazer seja o que for, a não ser destruir as condições de ensino-aprendizagem para os outros alunos e para os docentes.

Não se faz cumprir a lei que obriga o estudante a «reconhecer o direito à educação e ensino dos outros alunos» da turma (Artigo 9º (Decreto Legislativo Regional nº 26/2006/M de 4 de Julho de 2006), isto é, de «ter[em] acesso a uma educação de qualidade que permita a realização de aprendizagens bem sucedidas» (Artigo 7º Decreto Legislativo Regional nº 26/2006/M de 4 de Julho de 2006), não obstaculizando o bom decorrer do processo de ensino-aprendizagem na turma.

Tudo é aceite com normalidade, como se fosse um problema de cada professor, coitados.

A propósito:
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 1: condições de trabalho
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 2: a mais grave discriminação
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 3: primeira responsabilidade
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 4: manobra para a estatística I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 5: manobra para a estatística II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 6: manobra para a estatística III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 7: violência camuflada I
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 8: manobra para a estatística IV
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 11: racionalidade e realismo precisam-se
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 14: diploma universitário à nascença resolvia problemas da Educação
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 15: Violência (des)camuflada IV

Ainda:
-Insucesso escolar vem de longe 3
-Insucesso escolar vem de longe 2
-Insucesso escolar vem de longe 1

Por fim:
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Fomentos da indisciplina [quando o exemplo não vem de cima]
«Recuperar o amor à escola» com desamor pelos professores?
Melhores resultados escolares? Então toca a tratar e a compensar melhor os professores
«Apostar a sério da Educação», para quando?

Vai chegando a crise social

Há quem considere que a actual crise é mais grave do que a Grande Depressão de 1929.
photo origin

«Layoffs have arrived in force, like a wrenching second act in the unfolding crisis. In just the last two weeks, the list of companies announcing their intention to cut workers has read like a Who’s Who of corporate America: Merck, Yahoo, General Electric, Xerox, Pratt & Whitney, Goldman Sachs, Whirlpool, Bank of America, Alcoa, Coca-Cola, the Detroit automakers and nearly all the airlines
New York Times
25.10.2008

Se nos EUA se projectam números como 8 ou 8,5 por cento, o desemprego em Portugal, «pela primeira vez, em mais de duas décadas, pode chegar a uma taxa de desemprego de dois dígitos», como refere o Expresso, dependendo da dimensão da crise internacional, a confirmar para lá de meados de 2009.

sábado, outubro 25, 2008

A dívida é uma festa 5

cartoon copyright

A dívida da Madeira ficou mais cara, em consequência de o risco da nossa economia ter aumentado, segundo a empresa de rating Moody's, noticia hoje o Diário. Significa que vamos pagar mais juros pelos empréstimos contraídos.

«Uma notação [rating] baixa indica um elevado risco de crédito», explica o jornal. «Para assumir maior risco, os investidores exigem uma taxa remuneratória correspondentemente maior.»

Recorde-se:
A dívida é uma festa 1
A dívida é uma festa 2
A dívida é uma festa 3
A dívida é uma festa 4

Pragas velhas abalam Madeira Nova

photo origin

Corre o rumor de que haverá duas pessoas infectadas com o Dengue, na Madeira, mas carece de confirmação oficial.

Ainda hoje lê-se no Diário: «a Direcção-geral de Saúde acredita que estas medidas "vêm muito a tempo", porque ainda não há casos de Dengue na Região (no continente só casos importados) nem de 'Aedes aegypti' no território continental.»

Na mesma edição daquele jornal, Conceição Estudante afirma: «não há qualquer risco das doenças que este mosquito pode ser portador. Não há qualquer risco de saúde pública identificada neste momento".

"Neste momento não há nenhum caso importado de dengue", referiu anteontem Maurício Melim, presidente do Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais.

Sublinhe-se a seguinte contradição: um qualquer cidadão que traga espécies vegetais ou animais de outros países é rigorosamente fiscalizado quando entra na Madeira; quando são autoridades públicas a importar espécies tropicais, como as palmeiras que invadiram as obras da Madeira Nova, parece não haver a mesma fiscalização, para protecção da flora endémica e da saúde pública.

Agora estamos a braços com problemas com o mosquito 'Aedes aegypti' e com pragas infestantes "agressivas", como o escaravelho 'rhynchophorus ferrugineus', assassino de palmeiras, que são um dos símbolos da Madeira Nova.

António dos Santos Grácio, director da Unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, dizia no Diário de ontem que as larvas dos 'Aedes' são das "mais resistentes" e o insecto reproduz-se com muita facilidade. Daí acreditar ser «muito difícil erradicar o 'aedes aegypti' da Madeira, mas não impossível.»

Quem os põe na ordem?

As taxas de juro dos bancos sobem assim que o Banco Central Europeu anuncia a intenção de vir a aumentar a taxa de juro de referência.

Agora, que a taxa Euribor tem vindo a descer quase todos os dias, os bancos ainda continuam, em Outubro, a fazer os clientes pagar juros mais altos, fazendo vista grossa às constantes descidas reais da taxa de juro.

Não se trata de anúncios ou perspectivas de descida. São descidas reais, efectivas, que não se reflectem nos juros cobrados aos clientes dos bancos.

É como o caso dos combustíveis. Para encarecer é imediato. Para descer os preços, está quieto. Quem os põe na ordem?

Rabaçal em risco XIV [Rabaçal at risk in Madeira Island] opinião

«Quando a UNESCO entregou o galardão de Património da Humanidade à Laurissilva, para além de distinguir uma floresta ancestral e particularmente salvaguardada, 'disse-nos': meus senhores, essa floresta tem um valor incalculável;, a partir de agora, a responsabilidade de a conservar e proteger é vossa.

Apesar disso, aparecem uns iluminados a justificar, para o Rabaçal, um verdadeiro crime ambiental.

- "Valorização de uma área de beleza única"! É, como é única, espeta-se com cabinas de teleférico a subir e a descer (não há forma de as disfarçar nem aos cabos que as suportam, mesmo que as estações sejam metidas em grutas).

- "Criação de emprego"! É mais que sabido que infra-estruturas destas têm um impacto mínimo na criação de emprego. Mas querem rentabilizar? Muito bem: não nos deixem andar por ali à solta e à borla; agora que já há levadas bastante arranjadas e protegidas, criem pequenos e simples apoios ao longo delas, guias qualificados para acompanhamento e cobrem uma pequena taxa de circulação. Ninguém se recusa a pagar sabendo que vai entrar numa zona que é Património da Humanidade, que o dinheiro se destina à conservação do espaço, que quem o acompanha é de confiança e está ali para guiar e explicar. É assim em todo o lado.

- "Criação de um acesso cómodo e rápido para os visitantes"! Esta aberração só pode vir de quem está habituado ao conforto dos carros topo de gama e dos sofás. Não percebe que, para os visitantes, grande parte da beleza é andar a pé a percorrer as levadas e caminhos, sentindo o cheiro da terra, os sons da água e da floresta.

- "Dar a conhecer a floresta Laurissilva e as veredas das levadas das 25 Fontes e do Risco"! Isto é para dizer que uma das estações fica nas 25 Fontes? Colocando em causa todo um património natural de excepção com cabinas que transportam até 240 pessoas/hora??? Mas onde é que aquela zona aguenta uma tal carga de gente? Só se for para estragar completamente o que a Natureza tão magnificamente criou e soube preservar.

Pelo que é dado saber, por ano há cerca de 60 000 visitantes. Pois se as cabinas viajarem cheias, durante 6h/dia, estamos a falar de mais de 40 000 pessoas por mês!!! Quem quer ali meter um teleférico conhece o terreno? Percebe as consequências? Mede a anunciada destruição? A menos que se entre na loucura total. É que, se for o caso, aqui vão mais teleféricos possíveis: Portela/Penha d'Águia, Areeiro/Pico Ruivo, Balcões/Fajã da Nogueira, Encumeada/Serra d'Água, Camacha/Porto Novo…

Eu sempre achei que ainda tínhamos Laurissilva porque ela estava longe, a salvo das atrocidades do homem. Pois aí estão elas a começar a aparecer. Parece que há quem, durante a noite, se entretenha a pensar como é que vai estragar, durante o dia, o que ainda nos resta de excelente.

Isto não é um problema de impacto ambiental. É BOM SENSO. É DEFESA DO PATRIMÓNIO. É QUALIDADE AMBIENTAL.

Vejam se percebem o que foi dito na Conferência Anual do Turismo

Violante Saramago Matos
Diário 23.10.2008

photo copyright

Recorde-se:
Rabaçal at rick in Madeira Island XIII : teleférico soundtrack
Rabaçal at rick in Madeira Island XII : Susana Fontinha

Fruto das paixões

Romãs fotografadas no Jardim do Mar.

«A importância da romã é milenar, aparece nos textos bíblicos, está associada às paixões e à fecundidade. Os gregos consideravam-na como símbolo do amor e da fecundidade. A árvore da romã foi consagrada à deusa Afrodite, pois acreditava-se nos seus poderes afrodisíacos.»

photo with a cellphone 1.3 megapixel camera : no editing : © neliodesousa 2008

Falando de frutos:
Fruto dos deuses

sexta-feira, outubro 24, 2008

Caso Magalhães 13: literacias

A literacia digital, para dela retirarmos vantagens, implica estar na posse de outras literacias prévias.
cartoon copyright

A utilização das novas tecnologias não tem, necessariamente, de retirar da sala de aula os apontamentos e as sínteses dos conteúdos escolares. E não se aprende a escrever melhor apenas no papel.

No extremo oposto, é preciso desmistificar também a «crença na instantaneidade do saber pelo acesso aos gadgets», como alerta José Pacheco Pereira, como se a distribuição de computadores transformasse, num estalar de dedos, uma má educação em «boa educação» (ver Ilusão de Sócrates), o insucesso escolar em sucesso escolar. Não funciona assim. Acontece muita coisa pelo meio. As tecnologias são ferramentas, não são um fim em si mesmas nem varinhas mágicas.

Inês Silva, especialista em linguística, no Correio da Educação nº333 (ASA editores), afirma que o «computador ou o quadro interactivo não desenvolvem, por si só, as operações cognitivas complexas que são exigidas à actividade da escrita, se os seus utilizadores se limitarem a copiar, colar, retirar, cortar, reconfigurar, enviar, passar…»

O desenvolvimento de capacidades ao nível da pesquisa, organização, tratamento e gestão de informação e de outras literacias são fundamentais, nomeadamente através do recurso às tecnologias de Informação e Comunicação, mas não se esgotando nelas.

Se isto é uma evidência para o ensino-aprendizagem em geral, mais ainda no 1º ciclo do ensino básico, numa fase precoce da aprendizagem, onde pululam os Magalhães e os alunos se iniciam agora na escrita na posse de um computador individual.

Não será importante que os primeiros passos na escrita/leitura se dêem com caneta e papel/livros, de forma menos asséptica e digital/virtual, favorecendo a aquisição da destreza da escrita manual e cometer/corrigir erros sem o corrector automático a pensar pelos estudantes? Será que os alunos no 1º ciclo devem dar os primeiros passos na Matemática munidos de calculadora? Os processos cognitivos não são os mesmos.

Refere a autora que o «peso cultural da escrita (no sentido de símbolo e instrumento de civilização, instrução, saber) não desapareceu. E cita Fernando Pessoa: “a palavra falada é um fenómeno natural: a palavra escrita é um fenómeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem saber ler nem escrever. Não o pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenómeno cultural, não de natureza mas de civilização, da qual a cultura é a essência e o esteio.”

Por isso, diz Inês Silva, a «escola tem de ensinar a escrever». O estudante é o «sujeito de um processo de ensino‐aprendizagem cujo papel, para lá do mero utilizador das novas tecnologias, é do produtor‐escrevente.»

E reforça: «copiar, retirar, cortar, reconfigurar, enviar, passar… são, pois, actividades que não desenvolvem as operações cognitivas complexas exigidas à actividade da escrita. Esta apoia‐se nos meios tecnológicos, mas não se esgota nestes.»

«Para lá da tecnologia, [ou a montante dela] há que ajudar o aluno a aprender a escrever [a tal literacia e cultura prévias de que falava José Pacheco Pereira, de forma a tirar vantagem do acesso às tecnologias] – a criar e a recriar textos – o que decorre de uma pedagogia da escrita eficaz e da máxima que alguém sabiamente escreveu [...] ‐ só se aprende a escrever escrevendo

O que pode ser feito, sobretudo a partir do 2º e 3º ciclos, também no computador ou espaços na Internet, ferramentas de escrita muito úteis. Não é só com caneta e papel que é escrever. Fazemos a ressalva apenas para o momento de iniciação à escrita no 1º ciclo, em que os meios tradicionais parecem mais adequados e vantajosos, pela maior concretude e naturalidade. E tendo em conta os argumentos de de Inês Silva.

O homem é um ser analógico, num mundo analógico, não pode ser todo virtual/digital, por maior que seja o fascínio e o peso/utilidade das tecnologias de informação e comunicação.

Como já dissemos, não alimentemos a ilusão que o programa e-escolas vai criar um estudante novo. Não é isso que transforma as pessoas. São valores, princípios (educação e formação pessoal) e a cultura que mudam a atitude das pessoas perante o conhecimento e o trabalho.

Tivemos ainda oportunidade de sublinhar neste blogue (Programa e-escola, que proveitos? ou Ilusão de Sócrates), aquilo de que o Abrupto acusa José Sócrates: estar «convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam.»

Memória:
Caso Magalhães 12 : crianças desprotegidas
Caso Magalhães 11 : ainda mais humor
Caso Magalhães 10 : sonho Orwelliano
Caso Magalhães 9 : estéticas
Caso Magalhães 8 : Microsoft
Caso Magalhães 7 : mais humor
Caso Magalhães 6 : humor
Caso Magalhães 5 : louvores à força
Caso Magalhães 4 : JP Sá Couto e fuga ao fisco
Caso Magalhães 3 : quadratura do círculo
Caso Magalhães 2 : mails
Caso Magalhães 1 : Abrupto
Programa e-escola, o outro lado
Programa e-escola, que proveitos?
Ilusão de Sócrates

Caso Magalhães 12: crianças desprotegidas

A individualização do computador em tenras idades deixa poucas hipóteses aos educadores para proteger as crianças do acesso a conteúdos impróprios.
photo origin

Uma das questões que se pode colocar à individualização do computador, com acesso à Internet, a crianças do 1º iclo do ensino básico, é o acesso a conteúdos violentos e impróprios, nomeadamente os pornográficos.

Uma notícia no Público online de anteontem (22h.10) deu conta que o presidente do Observatório Europeu de Televisão Infantil, Valenti Gómez i Oliver, afirmara que os "filtros contra os conteúdos pornográficos e violentos na Internet são inúteis porque se ultrapassam".

Daí considerar «essencial promover a educação como uma ferramenta de prevenção da violência na juventude, pois através dela as crianças aprendem a distinguir "os bons dos maus".

Portanto, invocar que o Magalhães vem com filtros etc. e tal pouco servirá para deixar pais e educadores descansados.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Fruto dos deuses

Instantâneo de hoje à tarde, após a apanha de diospiros, algures nas belas e fecundas terras da Calheta.

O diospiro (kaki no Brasil) é um fruto especial, entre os meus preferidos. Após uma pesquisa, descobri que é conhecido por fruta dos deuses. Em grego significa fogo divino. Se tem fogo, é cá dos meus...

É um fruto requintado, bonito, vermelho alaranjado, com uma polpa sumarenta, suave como veludo, no tacto e no gosto. Proporciona belos momentos degustativos e provoca paixão.

A viscosidade da polpa parece inibir alguns de brindar as suas papilas (de)gustativas com esta doçura divina(l). Consome-se bem maduro, para não amargar. É preciso saber esperar pelo ponto certo.

O seu sabor é muito característico, sendo uma mistura de pêssego com pêra, como diz a informação que pode confirmar nos links abaixo fornecidos.

Além de muito nutritivo, ainda fornece um dos principais oxidantes utilizados contra o envelhecimento.

Mais informação:
Diospiro/Kaki
Diospiro/Kaki 2

photo with a cellphone 1.3 megapixel camera : no editing : © neliodesousa 2008

quarta-feira, outubro 22, 2008

Rabaçal em risco XIII [Rabaçal at risk in Madeira Island] Teleférico soundtrack

Confortavelmente dormente.
painting copyright: matt hansel 2005 - oil on canvas

Aqui damos a conhecer Bees Made From Honey In The Lions Skull, que poderá constituir uma excelente banda sonora para as viagens dormentes de teleférico sobre o Rabaçal:

Siga o link para este Myspace e comece pela faixa "Omens and Portents II", embora "Engine of Ruin" até tenha um título mais adequado à circunstância... Feche os olhos e imagine-se a sobrevoar o Rabaçal de teleférico, confortavelmente entorpecido.

Outros sinónimos:
Inerte, insensível, letárgico.

Esbanjador é cara da campanha de poupança do BES

O BES escolheu, para dar a cara por uma campanha de poupança, um dos homens mais esbanjadores que por aí andam. Belo exemplo de poupança.

Significa que a poupança anunciada pelo BES de pouco deve valer, se a referência é Cristiano Ronaldo. Por isso, sugerimos que o slogan «sobe & segue» seja alterado para «subtrai & segue».

Basta pensar na mansão, nos carros de luxo, nas noitadas de milhões numa única ida à discoteca, entre outros esbanjamentos, que, face ao património do CR não é nada. Será que é a costela esbanjadora madeirense de CR?

Resumindo, o campeão não usa a cabeça para poupar, mas sim para jogar à bola. Os responsáveis do marketing do BES não deram conta disso.

«Prioridade social»...

... in the orange world.

«A muralha de contenção dos terrenos a norte do Campo de Futebol de Câmara de Lobos [...] tem um custo de 4.776.600 euros» isto é, quase 5 milhões de euros adicionais à empreitada, que se aproxima do valor da verba do PIDDAC para a Madeira (quase 5 milhões e meio) inscrita no Orçamento do Estado 2009, como lembrou ontem o Diário.

Estes e aqueles outros milhões, como o que foram sorvidos pela praia artificial de Machico, recentemente inaugurada, deverão ser o que é designado por «prioridade social».

O teleférico do Rabaçal, com o custo estimado de 5 milhões, deverá também integrar-se no conceito de «prioridade social».

Toma lá que és madeirense

photo copyright

O «gasóleo e gasolina já custam menos 5 cêntimos nos postos da CEPSA face à Madeira», noticia hoje o Diário. Para nem comparar com os Açores, onde é mais barato do que em qualquer outra zona do país.

No pós 25 de Abril de 1974, um programa humorístico popularizou a expressão reaccionária «toma lá que és democrático!» Um dias destes, diremos «toma lá que és madeirense!», no qual a anestesia e a submissão acríticas são traços vincados.

terça-feira, outubro 21, 2008

Caso Magalhães 11: ainda mais humor



Caso Magalhães 7: mais humor
Caso Magalhães 6: humor

Caso Magalhães 10

Razões da permanência no poder nas Regiões Autónomas

picture copyright

Segundo o politólogo Pedro Magalhães, há razões que "facilitam a vitória de quem está no poder", nas regiões autónomas, com se pode ler no hoje no Público:

"A dinâmica política eleitoral a nível autonómico é diferente, porque estão em causa comunidades reduzidas, em que as pessoas com frequência têm laços com quem está no poder, ou então estão economicamente dependentes do poder". O poder acaba ainda por "beneficiar do fenómeno da visibilidade."

"A permanência é mais provável porque influenciam mais directamente a vida das pessoas. E porque têm meios orçamentais privilegiados" (a notícia cita o Orçamento do Estado para 2009, que prevê a transferência de uma verba de 208,4 milhões de euros para a Madeira e de 351,7 milhões de euros para os Açores.)

Aliás, é uma tese confirmada pelo presidente do Governo Regional da Madeira: os "apoios que os Açores tiveram, todo o dinheiro que pôde dispor, algum dele à custa da Madeira" ajudam a explicar a vitória do PS nos Açores, pelo que até «se esperava um resultado mais substancial», precisamente devido a essas condições orçamentais privilegiadas, lê-se hoje também no Público.

O grau de dependência das pessoas explica-se também pelos números do emprego público: «segundo dados da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público, em 2005, a nível nacional [...] o peso do emprego público na população activa era de 13,5 por cento e na população empregada de 14,6 por cento», enquanto nas regiões autónomas este peso ascendia 17 por cento nos Açores e 16,5 por cento na Madeira.»

«Isto porque, para uma população activa de 109.800 pessoas nos Açores, a população empregada é de 105.300 pessoas e o emprego público é de 18.675 pessoas. Na Madeira, por seu lado, a população activa é de 122.700 pessoas, a população empregada é 117.100 e o emprego público ocupa 20.148 pessoas.»

Há ainda a considerar a variante socio-cultural, de um maior conservadorismo das populações insulares, com menor abertura à mudança e mesmo menor massa crítica, devido ao isolamento.

Caso Magalhães 10

No texto RETRATOS DE UM SONHO ORWELLIANO, José Pacheco Pereira continua a sua saga argumentativa sobre o Magalhães, desta vez a propósito de um aníuncio da PT, acima reproduzido. Vale a pena uma espreitadela, também pelos comentários dos leitores do Abrupto.

Destaques:

«A crença tecnocrática no gadget explica muita coisa, mas mostra ignorância sobre o modo como as tecnologias mudam as sociedades.»

«Neste mundo PT - Sócrates, o elemento essencial do sucesso pedagógico aparece como sendo o computador, quando é o professor, é a capacidade empática do professor [ver nota em baixo] a chave de tudo e é essa realidade, mais difícil de dominar e melhorar, que não se alimenta da crença na instantaneidade do saber pelo acesso aos gadgets

«[A] ordem porque aprendem e o modo como interligam as diferentes literacias não é irrelevante.»

NOTA:
A «capacidade empática» de que fala Pacheco Pereira é um mito, como a questão da vocação, um conceito meio mágico, meio religioso, meio místico (cuja etimologia procede do verbo vocare, ou seja, "chamar"; tem vocação o que é chamado para... não se sabe muito bem quem faz a chamada nem como a escutar).

Atente-se ao pensamento do arquitecto Álvaro Siza Vieira, no Público (15.06.2007): «Não acredito nessa coisa da vocação. Acredito em influências que canalizam para determinados interesses, mas não acredito que fulano nasceu para arquitecto, ou cicrano para médico. Interessou-se, estudou, houve uma convergência de razões que o levaram a fazer aquela opção. Ou às vezes até por acaso. Já contei não sei quantas vezes que eu não queria ir para arquitectura.»

Mas, há sempre quem goste de se considerar predestinado. Como há quem acredite que a aprendizagem do aluno depende, em grande parte, da «capacidade empática» do docente, uma espécie de encantador de pessoas. Se o estudante não aprende é mais uma vez responsabilidade única do docente.

Nunca porque o aluno não trabalha, não se interessa, não estuda, não é disciplinado ou não tem uma atitude favorável perante o trabalho intelectual. Nada disso, é porque o professor não é empático... Se as pessoas fossem trabalhar em função da capacidade empática dos patrões...

Eu diria que a presença humana do professor, como criador de condições para a aprendizagem, é mais importante do que os gadgets.

Memória:
Caso Magalhães 9
Caso Magalhães 8
Caso Magalhães 7
Caso Magalhães 6
Caso Magalhães 5
Caso Magalhães 4
Caso Magalhães 3
Caso Magalhães 2
Caso Magalhães 1
Programa e-escola, o outro lado
Programa e-escola, que proveitos?
Ilusão de Sócrates

segunda-feira, outubro 20, 2008

Uns mais iguais do que os outros, mas iguais I: desejos de domínio absoluto

SEMPRE MAIS... PODER.
photo copyright

O realce que Carlos César deu, no seu discurso de domingo, à vitória, pela primeira vez, em todas as ilhas dos Açores, é demonstrativo do desejo de domínio absoluto, numa analogia ao realce atribuído aos «onze a zero», em eleições autárquicas na Madeira.

O presidente açoriano não foi ao limite de usar linguagem futebolística e evitou a expressão «nove a zero».

Esqueceu-se, claro, da vitória ainda mais absoluta da abstenção, a ultrapassar os 53 por cento. Mas isso não convém.

O poder é, naturalmente, prepotente e expansivo: na sua óptica nunca domina o suficiente. Aspira SEMPRE A MAIS e mais. Interessa conseguir a submissão e o domínio do outro. Não basta vencer, é preciso derrotar em toda a linha, humilhar e «esmagar», como se ouviu uns populares expressarem à passagem de uma arruada social-democrata, no Funchal, em Maio de 2007.

Como diz a canção Poder de José Mário Branco [Resistir é Vencer, 2004], «poder/Quem o tem, tem ascendente/Poder/Quem o tem, faz-se valente/Bem usado/Mal usado/O poder é sempre prepotente.»

É a natureza humana. Daí os benefícios da alternância. Um ou dois mandatos e seria suficiente, para não criar raízes e domínios absolutos tóxicos para a democracia.

Recorde-se:
Uns mais iguais do que outros, mas iguais

Ganha quem é poder

map copyright

O eleitorado insular é conservador e aposta sempre em quem está no poder, apesar dos erros ou abusos desse poder, ainda por cima com predilecção para as maiorias absolutas com larga margem.

O poder na Madeira nunca mudou, nunca houve alternância em 30 anos. Nos Açores isso aconteceu porque Mota Amaral abandonou a liderança do governo e PSD açorianos. Caso contrário, ainda estaria a presidir ao Governo Regional do arquipélago irmão.

Enquanto em Portugal continental, como na generalidade das democracias, o poder não resiste, normalmente, ao desgaste de dois mandatos, nas democracias autónomas insulares portuguesas os governos resistem a todo a erosão governativa - o eleitorado é à prova de qualquer das vicissitudes do domínio absoluto.

Tanto na Madeira como nos Açores, com tantos rescursos disponíveis para proporcionar progresso económico-social acentuado nas últimas décadas, apenas uma governação desastrosa poderia motivar outro sentido de voto.

Sem a mudança de liderança - por isso Alberto João Jardim não saírá em 2011 - ou uma vasta crise económico-social, o eleitorado insular perdoa todos os erros governativos.

Daí a preferência insular pela democracia musculada.

Ainda a assembleia conturbada em São Vicente

Outra versão de testemunha ocular sobre os recentes acontecimentos na Assembleia Municipal de São Vicente, em 17 de Outubro, que até envolveu polícia.

Se a ideia era que ficasse registado em acta que as denúncias efectuadas, numa reunião anterior, sobre consumo de drogas e prostituição naquele concelho, resultavam de rumores nesta localidade, poderia sempre ser feito através de uma declaração de voto, após a aprovação da acta na forma decidida pela maioria dos deputados municipais.

Contudo, a denúncia com base em rumores é sempre poblemática, pela sua volatilidade e por ser difícil obter prova, e um líder nunca deve perder a calma, seja qual for a circunstância.